quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Novo ano

Neste novo ano, eu quero dias mais longos e noites mais curtas;
Eu quero dias de chuva e tardes de arco íris;
Eu quero arriscar mais e temer menos;
Eu quero falar menos e ouvir mais;
Eu quero perder o fôlego.
Eu quero rosas na mesa de jantar às sextas feiras;
Eu quero pisar na grama uma vez por semana;
Eu quero viajar para destinos desconhecidos;
Eu quero banhos de mar. E sol na janela ao despertar.
Eu quero realizar um sonho de infância. E quero nadar em águas profundas;
Eu quero amigos do peito por perto e risos de criança nos ouvidos;
Eu quero dançar de pés descalços.
Eu quero sorver palavras novas;
Eu quero que o mundo pare quando estiver tocando  música;
Eu quero quebrar regras só de vez em quando.
Neste novo ano, eu quero ouvir minha filha dizer “eu te amo”.

Epifania

Foi num dia de outubro que eu tive a epifania. Eu andava cheia de dúvidas, e elas andavam me consumindo. Eu precisava encontrar a luz, ou qualquer outra coisa que tivesse uma fagulha e me iluminasse. Não sei ao certo o que me fez abrir a porteira, mas saiu muita coisa lá de dentro, viu, algumas um tanto impublicáveis. Fiquei animada, em êxtase, tudo fazia sentido agora. E metida que sou, corri atrás de alguém que me dissesse se o caminho era aquele mesmo. Mas eu não me contentaria com alguém qualquer, resolvi knocking on heaven´s door...e veja lá o que ouvi de resposta:

“On Dom 30/10/11 16:43 , RAFAELLA MARCOLINI rafaellamarcolini@hotmail.com sent:

Inspiradora Martha,

confesso que estou nervosa. As mãos frias, o coração acelerado, a boca seca só de pensar em você lendo, perdoe o clichê, essas mal traçadas linhas.

Sou sua leitora, de sempre. Nem lembro mais quando isso começou, sou daquelas que espero o jornal saindo do forno aos domingos e abro direto na Revista do Globo. Tenho que me apressar, sou mãe de uma menina de um ano, e sabe como é, se me alongo demais, ela se impacienta e começa a lutar contra o jornal, provocando um certo estrago...

Escrevo desde menina. Guardo comigo umas folhas velhas, amareladas, uns cadernos cheios de anotações, referências a notas mentais. Ainda tenho a máquina de escrever Olivetti, presente de natal dos meus 13 anos. E uma crônica publicada pouco depois, no livro "Escritores e Escritoras do Século XXI". Hoje em dia leio isso e fico até com vergonha, mas faz parte da minha "biografia", fazer o quê...

Mas estas palavras ficaram adormecidas dentro de mim, meio perdidas. Fiz Direito, tive que trabalhar, pagar as contas, sobreviver. Mas um vazio permanecia, e meu desejo de libertar essas palavras não era satisfeito com os textos jurídicos, tão protocolares.

Casei, entrei na terapia, minha filha nasceu. E nada preenchia o vazio. Lia muito, fazia alguns textos aqui e acolá, mas nada digno de nota. Nada com regularidade.

A vontade voltou, e eu abri a porteira, que estava represada dentro de mim. Não sei explicar o alívio que senti, quer dizer, nem preciso, você vai entender.

Estou perdida, apavorada e paralisada pelo meu senso crítico, que sempre me impediu de fazer o que amo. Preciso de ajuda. Não mostrei nada ainda para ninguém, tomei coragem e fui atrás de você primeiro. Acho que o diagnóstico só pode ser dado por uma especialista, a melhor de todas.

Estou, ainda, no estágio embrionário, e poucas coisas escrevi. Mas sinto uma ansiedade adolescente, como se precisasse parar tudo e escrever, escrever, escrever, por horas a fio até conseguir descomprimir...

Se você puder me fazer uma visita, rápida mesmo, de médico, eu agradeceria muitíssimo.

Meu blog é http://www.descomprimindo.blogspot.com/

Aguardo seu diagnóstico, se for possível.

Um  abraço forte,

Rafaella
To: rafaellamarcolini@hotmail.com
Date: Sun, 30 Oct 2011 19:52:10 +0000
Subject: Re: Muito prazer!
From: marthamedeiros@terra.com.br
Rafaella, obrigada pela querideza do teu email, eu também ganhei uma olivetti quando fiz 13 anos... Mas olha, dezenas de pessoas pedem pra eu avaliar seus textos, não tem como, e ainda mais agora: estou em Machu Pichu!!! Juro.
Mas valeu pelo carinho, fico na torcida por você!
Bjs,
Martha “
Desde então não se passou um único dia sem que eu acordasse com uma vontade arrebatadora de escrever. E se fez a luz! Nasceu este filho!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sinal dos Tempos

Eu guardo minhas incoerências bem escondidas, e morro de medo de alguém descobri-las. Tenho mais vergonha delas do que de unha roída, do que de alface no dente, do que de meia furada. Mas não vou negar, as minhas existem aos montes. Pedir um lanche gordurento num fast food acompanhado de um refrigerante zero caloria é meu pecado incoerente mais básico, e mais comum, confesso. Existem tantos outros, bem mais sofisticados, e que cometemos sem nem mesmo perceber. Reclamar da vida, mas permanecer acomodados, suspirar que estamos falidos e continuar gastando dinheiro, apontar os erros dos outros e justificar os nossos....são um sem número de exemplos que fingimos não ver e que nos acompanham ao longo da vida, todos os dias.
Não é simples negar e enfrentar nossas contradições, esse movimento exige esforço + energia, combustíveis escassos, que andam racionados tamanha é a quantidade de tarefas que exigem essa equação química hoje em dia. Mas é preciso ter cuidado, incoerências em excesso deixam a alma deformada, ridícula, bufona. E nunca antes na história da humanidade, viu-se tamanhas contradições! Mulheres com rostos esticados, mas corpos enrugados, atletas, exemplos públicos de saúde, que se revelam viciados: em álcool, em sexo, em drogas, pais de família de dia, que se transformam a noite, e por aí vai.
Sejam bem vindos à era da aparência, e acomodem-se para viver intensamente a sua incoerência! Qualquer sentimento espontâneo e autêntico é alvo de arma de fogo, nossa missão é  nos enquadrar nos vidrinhos com rótulos que recebemos ao nascer. E não se rebele: nada de trocar de embalagem, a sua está predestinada! Se for mulher, estude, mas não muito, porque homem não gosta de fêmea intelectualizada, case com seu primeiro namorado, de preferência quase virgem - se é que isso existe -, tenha um casal de filhos e trabalhe, mas pouco para dar atenção a prole e ao marido. Seja boa dona de casa, aprenda a cozinhar e cuidar da família. Conforme-se com seu vidrinho e evite reclamações no horário do expediente!!
Aff! Quem é que não precisa de uma dose tripla e cowboy de contradição com um roteiro desses?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Alguém?

Quem nunca brincou de pega, comeu meleca, escondeu pereba? Quem nunca dormiu na aula, teve uma amiga Paula e uma dor na alma? Quem nunca tomou picolé de uva, pichou uma blusa, tomou banho de chuva? Quem nunca fez brigadeiro, foi mochileiro, quis ser bombeiro? Quem nunca chorou sozinho, tomou um porre de vinho, xingou o vizinho?  Quem nunca colou na escola, fundiu a cachola, pisou na bola? Quem nunca comeu besteira, acordou com olheira, no verão teve frieira? Quem nunca teve medo, cortou um dedo ou contou um segredo? Quem nunca ficou de castigo, ou a perigo ou sem amigo? Quem nunca quis sumir, morreu de rir ou fingiu sorrir? Quem nunca cantou errado, beijou um safado, contou um babado? Quem nunca palitou os dentes, falou com duendes, fez o jogo do contente? Quem nunca sonhou com o dia que alcançaria todos seus desejos de menina?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Mensagem de natal

Acabei de mandar minha mensagem de natal para as minhas amigas. Doei minhas palavras e minha sabedoria de conta-gotas. Vou dividir com vocês, porque é um conselho de mãe, na verdade. Despretensioso, mas cheio de amor. E conselho é como beijo, como carinho, não precisa experimentar, escolher ou trocar: é gratuito e vale para qualquer um que quiser recebê-lo. Pode pegar o seu exemplar e use com moderação! Boas festas!

" Meninas,
Não pretendo invadir a caixa de mensagens de vocês com mais algum clichê natalino. Quero, apenas, aproveitar esta época do ano, propícia a reflexões, e desejar, a todas, coisas simples, mas que valem muito.
Saibamos separar o que é importante do que não é, evitando gastar energia com o que não vale a pena. Não poupemos só dinheiro, mas a nós mesmas. Tenhamos sempre uma dose extra de paciência, de cautela e de energia, para qualquer emergência. Sejamos nossa melhor amiga, não nos sabotemos! Por fim, sejamos mais simples e mais honestas conosco, criando metas alcançáveis e flexíveis. Vamos ser felizes com o que temos!  E não vamos deixar a rotina nos afastar de quem é importante!
Longe ou perto, desejo sempre o melhor para cada uma!
Feliz Natal e um 2012 caprichado!"


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guerra dos Sexos

Já decidi. Na próxima encarnação quero nascer homem. E não é para usufruir dessas bobagens machistas de fazer xixi em pé e andar sem camisa, o que preciso é sentir alguns prazeres mundanos que não vivenciarei com profundidade nesta casca fêmea.
Preciso saber por que uma partida de futebol exerce tamanho fascínio para a macharada, prática singela e consideravelmente mais econômica que a equivalente tarde de comprinhas da espécie feminina.
Quero entender se a dificuldade de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo é real ou uma falácia, um factóide convenientemente criado pelo universo masculino para justificar seu ócio improdutivo.
Eu realmente preciso confirmar se uma despedida de solteiro pode ser, apenas, um chopp com amigos como eles apregoam ou, como desconfiamos, existe, obrigatoriamente, por exigência protocolar do contrato que assinam ao nascerem “machos”, a presença entre eles de uma femme fatale despudorada e de poucas vestes E, acima de tudo, se o sexo é, de fato, uma necessidade fisiológica de tamanho apelo ou se isso é mais uma bullshit  para explicar biologicamente as puladas de cerca tão íntimas do lado de lá.
Vamos lá, que mulher não gostaria de entender a capacidade do seu marido em resolver todo e QUALQUER problema numa mesa de bar por muitas horas e intermináveis rodadas de “saideira” com seus melhores amigos?
A vida é mais fácil para os homens, não tenho dúvida! Menos drama, mais diversão, menos responsabilidades. E não me chame de machista, cara cética leitora: precisamos enfrentar o fato de que somos biologicamente diferentes e que existem tarefas que se encaixam melhor neles e outras em nós, por conta dessas adaptações evolutivas.
Mas o que eu queria mesmo, não vou negar, é nascer homem e depois voltar para o outro lado da trincheira para usar toda insider information  que adquiri contra eles e vencer esta guerra dos sexos de uma vez por todas! Quem me acompanha?


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Saudações Natalinas

E lá se vai mais um calendário de mesa para o lixo. Ano findo, lições aprendidas, resoluções de ano novo e todo esse blá, blá, blá natalino. Astrólogos alçados a personalidades em entrevistas nos programas de domingo, simpatias para a virada. Diga aí, caro leitor: qual é a cor da roupa íntima que você vai usar para atrair sorte? E para Amor? Dinheiro? E como vai usar o dinheiro extra de final de ano? As pautas jornalísticas se repetem, cheiram a mofo, à roupa guardada que usamos uma vez por ano.
O espírito natalino me comove. Pessoas estressadas em todos os lugares. Trânsito caótico, lojas inchadas de consumidores endividados, e pedintes por todos os lados. Seu porteiro, seu carteiro, seu jornaleiro: todos se transformam em almas sedentas pelo dinheiro alheio e abusam da criatividade que lhes falta o ano todo para bolar todas as formas possíveis de constrangimento público: caixinhas de natal, bilhetinhos de confraternização em envelopes para serem devolvidos com alguma lembrança, livros de ouro e por aí vai. Somos reféns da cultura consumista americana. Não há escolha, nem opção, o dinheiro ganho tem que ser gasto, com a família, com os colegas, com os amigos, com os desconhecidos, com os pobres, com os órfãos. Precisamos impulsionar a roda da fortuna! O dinheiro precisa girar, e você, meu amigo, como brasileiro, como cristão, deve fazer a sua parte! Dê preferência para as compras de última hora, que é bem mais emocionante, afinal, enfrentar a maratona de final de ano tem o seu mérito. Emende com o churrasco dos colegas de trabalho, com o preparo da receita de peru de algum programa vespertino, com o amigo oculto dos seus amigos de faculdade e, ufa!, complete o programa com uma visita a árvore de natal da Lagoa. Pronto! Agora sim: Feliz Natal!


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Paixões Nacionais

Às vezes confesso que me pergunto se nasci no País certo. Algumas paixões nacionais me são completamente estranhas, por exemplo: futebol, cervejinha e verão. Não vou negar que gosto de uma prainha, mas sob estritas condições. Pouca gente, nada de vento, e calor agradável, sem torrar os miolos a seco. E o mar tem que estar para peixe, gostoso, calminho, propício a nadar até depois da arrebentação. Fora isso, resisto em sair do conforto de um ambiente climatizado com um copo de algo gelado ao alcance da mão. Mas sou daquelas que acaba cedendo e vou à praia muitas vezes para rever amigos, ainda que nenhuma das alternativas acima esteja do meu agrado.
O fato é que me incomoda a sensação de calor, de desconforto que ele provoca e de constrangimento público de ter que socializar quando seu corpo está pouco convidativo a qualquer contato mais próximo. E, todos sabemos, a tropicália gosta de um aperto caloroso, de tapinha nas costas, de segurar no braço. Somos um povo afetuoso, mesmo nos meses em que o Senegal é aqui. Talvez se eu fosse membro fundador da Cervejinha Futebol Clube eu relaxasse um pouquinho mais e apreciasse as “benesses” de um país tropical, afinal, em que outro lugar do mundo a cerveja é estupidamente gelada?
E tem mais outra. Vou morrer sem conhecer o prazer que as pessoas sentem com a vitória de seu time de coração. A ansiedade e a vibração que sentem ao comemorar um gol, a alegria de secar o time adversário. Não basta ganhar, na lógica futebolística, o seu rival tem que perder também. Que sentimento mais nobre, não?
Eu não preciso, realmente, de mais um fator de estresse e de tensão na minha vida, aliás, domingo para mim é o sétimo dia, o dia sagrado de descanso. Então, divirtam-se, people, mas não me convidem para a dobradinha praia (insolação) e futebol (confusão) num domingo de verão. Chega de emoções fortes. Na minha idade, preciso me cuidar!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desordem Mundial

O mundo está mesmo precisando sentar no divã, rever seus conceitos, tomar um lexotan. Olho em volta e por toda parte vejo mulheres iguais, em corpo e de alma. Muitos cabelos alisados, longos, pintados. Variações do mesmo tema:  muito de tudo que não lhes pertence: injeção de silicone, de botox, de lipospiração. Excesso de bronze, de brilho, de músculos. Exércitos de bonecas montadas, ensaiadas, esvaziadas.
Não há espaço para ser diferente, para a individualidade. Todos desejam os mesmos desejos. A criatividade perdeu a majestade, hoje, bastam cópias bem feitas. O pensamento e o ensinamento viraram fonte de tédio ou de esforço medido com régua e compasso.
Estamos todos sem tempo, sem afeto, sem talento. Amigos viraram peça de colecionador virtual, são muitos, mas não os vemos. A informação nos sufoca, nos arrebata, nos incomoda. Não há lugar para ignorantes, a não ser a marginalidade. O conhecimento do qual nos vangloriamos é raso, imperfeito, opaco. Nada se aprofunda, nada nos preenche. E continuamos correndo contra o tempo, sem saber exatamente porquê. Procurando uma bateria que nos recarregue em plenitude, e nada nos encaixa. Somos como ratos de laboratório, correndo sem sair do lugar. Mas estamos sempre bem na foto, felizes em nossos sorrisos clareados artificialmente, acomodados no conforto barato que o consumismo nos provoca.
Estamos cada vez mais só, mais doentes, mais infelizes, mas parecemos o contrário. Temos que sobreviver, representando este papel que nos foi dado nesta nova desordem mundial. Mas será que alguém mais, além de mim, realmente se importa com isso?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Por quê?

Sabe aquela pessoa que tem sempre uma pergunta no final da frase? Essa sou eu! A minha curiosidade por vezes beira a má educação, mas ainda assim, não há meios de reprimi-la. Ela tem vida própria, é voluntariosa, cheia de si.E não gosta de esperar. Lembrou de alguém? Pois bem, quem não conhece alguém como eu.
Ando envolvida com algumas questões um tanto preocupantes ultimamente. Pela sua relevância, acho que devem vir a público.
Respiro fundo e solenemente. E começo a sequência, aguardando respostas reconfortantes:
Por que as garrafas de água mineral estão cada vez menores? Por que entramos numa fila mesmo sem saber para que que serve? Por que compramos livros novos sem ter lido todos os antigos? Por que toda vez que vemos uma criança, esboçamos um sorriso? Por que sempre na nossa vez os ingressos acabam? Por que as pessoas fazem filas para lugares com assento marcado? Por que sentimos vontade de espirrar quando fazemos a sobrancelha? Por que antes de espirrar fazemos uma pausa? Por que sentimos fome toda vez que vamos ao supermercado? Por que estou escrevendo esta crônica ao invés de dormir, se estou exausta?
Não sei dizer. Vou dormir com as mesmas perguntas. Espero acordar com algumas respostas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Meus dez mandamentos

Direito é o estudo das teorias e dos princípios. Existem princípios sem fim, com perdão do trocadilho. Você aprende, estuda, decora. Acha lindo citá-los em seus recursos e apesar do tempo perdido com eles, os juízes dão de ombros. Usam os que gostam, e deixam de lado os outros. Mas eu insisto neles ainda assim. Adoro uma teoria assim como adoro um bom livro. Uso nas horas certas, para exercitar minha imaginação.
Há uma teoria jurídica especialmente interessante que deveria ser importada para nossa vida, a teoria da reserva do possível. Deixando para lá todo o desnecessário juridiquês que a envolve, e trocando em miúdos, a teoria diz o seguinte: o Estado tem o dever de prestar serviços, de honrar obrigações, de exercitar seus deveres, mas dentro dos limites do razoável, não se podendo exigir dele tarefas inexequíveis. O Estado é grande, é poderoso, mas não é mágico. Se o Estado não consegue, por que eu tenho que conseguir?
As vésperas de fazer aniversário, decidi aplicar a teoria da reserva do possível na minha vida. E acho que este deve ser um dos melhores presentes que me dei nos últimos 33 anos. Exigir de mim além da conta me deu um fardo pesado demais para carregar a ponto de causar estragos irreversíveis na minha espinha dorsal emocional. Hoje, só quero aquilo que seja possível, sem gelo nem limão, puro mesmo. Não vou me comprometer com tarefas que estão na minha lista pessoal a cada ano que entra e que nunca consigo realizar. Vou ser a melhor esposa, mãe, advogada e filha que conseguir ser, mas sem metas inatingíveis. Vou cuidar de mim também, ao invés de pensar sempre primeiro nos outros. Não quero mais emagrecer dez quilos, conhecer o mundo, ficar rica, quero estar em forma, viajar pelo mundo e ter uma vida confortável. Quero ter metas, mas sem sentir-me refém delas. Quero me permitir ser feliz, mesmo que a louça fique na pia no final de semana, mesmo que eu ultrapasse os vinte pontos da dieta do dia, mesmo que eu não dê conta do trabalho todo antes de entrar de férias, mesmo que as coisas saiam do controle de vez em quando. Vou tentar, prometo! Meu mantra: respirar fundo, segurar na mão de Deus e seguir em frente, baby. Sem olhar para trás!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gente de Verdade

Toda mulher vem de fábrica com o seu disparador pessoal de estresse. E, na maior parte das vezes, o bichinho vem desregulado.
Sentimos irritação com coisas que não combinam com nosso modelo bem sucedido de fêmeas desenvolvidas.
Conheço mulheres que se irritam com gente simpática. “Aff! ela ri demais, mostra os dentes demais, tem boa vontade demais”. Outras se pegam arrancando os cabelos com homens bonzinhos : “ele é muito certinho,  correto, perfeitinho...não serve para mim!”
Já conheci algumas que implicavam com homens vaidosos, outras que odiavam gente feliz...Freud ainda está tentando explicar...
Você entende o que digo: nunca estamos satisfeitas! Se temos o que queremos, queremos um pouco mais, ou se não temos o que queremos, sofremos pelo que não temos! Simples assim!
Eu sou do tipo que se incomoda com gente certinha. E como toda fêmea da raça, logo aciono o meu desconfiômetro ao me deparar com um indivíduo da espécie “perfeytus demays”. Gosto de gente que erra, que chora, que perde, que tem medo, que xinga quando está zangado, que fica carente quando está com medo. Não gosto daqueles que registram suas verdades em cartório, que nunca mudam de opinião, que brigam com os outros só para convencê-los que estão certos, que mostram mais que fazem, que fazem menos que podem. Não gosto. Nem de gente que está sempre feliz, sempre sem problemas, sempre com dinheiro no banco, sempre com filhos perfeitos, sempre tão falsos, tão estreitos.
Gosto de almas nobres, generosas, que mesmo que se arrependam depois, não cansam de ajudar e perdoar. Gente que insiste. Ou seja: Gente de verdade.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sonata da Mulher Moderna

Abro os olhos. Levanto. Lavo o rosto. Troco fralda, faço mamadeira, mudo a roupa. Arrumo a cama, arrumo a sala. Apronto a bolsa. Me visto. Tomo café. Brinco com ela. Levo-a para passear. Passo no mercado, faço compras. Volto. Esquento o almoço. Ela rejeita. Insisto, faço uma graça. Ela come. Hora do banho. Hora do sono. Ela não dorme. Eu me impaciento. Insisto. Ela cede. Suspiro. Arrumo o banheiro. Lavo a louça. Comer, tomar banho ou descansar? Arrumar os brinquedos. Tomo banho. Enquanto almoço, ela desperta. Interrompo. Vou até o quarto. Brincamos. Hora do lanche.Mais uma voltinha na rua. Banho de novo. Jantar. Cama. E alguns dramas. Janto. Ajeito a cozinha. O marido quer atenção, quer carinho, quer conversar. Escovo os dentes. Ponho o pijama. Dou a mamadeira.Troco a fralda. E desmaio. Amanhã ainda é segunda-feira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Coruja

Muito prazer, sou uma mãe coruja! Sou novata no grupo, ainda estou me enturmando. Mas os sintomas já estão aparecendo, e ando assustada comigo mesma. Onde foi parar meu bom senso, meu equilíbrio, minha sensatez?
Acordo de madrugada e vou ver se minha corujinha está respirando. Se fico na dúvida, só volto a dormir tranqüila depois de uma esbarradinha de leve para ver se ela reage e se mexe um pouquinho. Nada grave, né, doutor?
Palpitações às vezes me acometem, especialmente quando ela faz beicinho, os lábios tremendo, instantes antes de chorar. Ou quando abre o sorriso, espreme os olhinhos e vira o rostinho para o lado, esperando aprovação.
Sinto até tonturas quando a vejo dando gritinhos de alegria, no pique e esconde que improvisamos na sala de jantar, ou quando, cheia de si, e com autoridade, retira qualquer distração das minhas mãos que me fazem perdê-la de vista por alguns segundos.
E tem mais. Fico sem ar, sem fôlego, sem chão, quando as gargalhadas invadem aquele pequenino ser cada vez que se decreta o início do ataque de cosquinhas.
Vejo meus olhos úmidos, marejados, quando a percebo crescida, balbuciando palavras, em especial quando chama “Mamãe”.
Sou acometida de uma graça um tanto divina quando seus olhinhos me procuram e vêem ao meu encontro, se unindo a mim em um abraço.
O diagnóstico se confirmou, nem exame careceu de ser feito.
“Corujice aguda, minha senhora, sem medo de errar.”

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Brava Gente!

Brasileiro é um povo muito peculiar. Quando está no Brasil, fala mal dos seus compatriotas, reclama dos políticos, dos impostos, da má educação no trânsito. Quando viaja, se orgulha de sua raiz verde e amarela, a ponto de perambular por uma avenida européia com o manto da seleção canarinha, todo cheio de si. Para ser admirado, claro, vaidoso que é...
Brasileiro chama atenção em qualquer lugar do mundo, também, pudera, fala alto, conta piadas, se exibe no idioma local e gosta de mostrar intimidade. Puxa assunto, troca idéias, dá dicas da sua terra, todo orgulhoso. Não tem medo do mico. Anda em bandos, compra de tudo, paga excesso de bagagem, e está sempre carregando uma sacolinha. Souvenirs e imã de geladeira? Lembrancinhas para os amigos? Victoria Secret para as funcionárias? Chocolate para os colegas de trabalho? Brasileiro é parceiro! Não esquece de ninguém.
Brasileiro adora andar de metrô para se sentir local. Gosta de tirar foto de paisagem com máquina cara, de grife, e depois espalhar pelas redes sociais...low profile? No, thanks...
Brasileiro é enxerido, presta atenção na conversa da mesa do lado e se controla para não dar palpite. Trata futebol como religião e religião como esporte, diz que é praticante, mas, na prática...
É barulhento, apaixonado, intrometido, exagerado. É solidário nas horas difíceis, mesmo com quem não conhece. Precisa de pouco para se divertir: um dia de sol, uma cerveja gelada, um churrasco com os amigos. Ou tudo isso junto. Brasileiro é coisa nossa!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Filha da Culpa Cristã

A culpa é um fardo que todas as mulheres carregam desde que nascem. Isso explica, em parte, o fato de estarem sempre querendo emagrecer uns quilinhos...mas acredite, se além disso você ainda for mãe e criada numa família católica, poor you: sinal vermelho por excesso de peso: 50 dólares por cada quilo excedido and have a nice trip! Durma com um barulho desses!
Você quer viajar sozinha sem filhos? CULPADA! Você precisa sair da dieta e comer um brigadeirozinho inofensivo? CULPADA! Você quer fugir daquela sonífera reunião de família e inventa uma mentirinha? CULPADA! Você PRECISA daquele vestido de 600 reais que vai fazê-la entrar no cheque especial para ir ao casamento da sua melhor amiga? E bebe um pouquinho a mais no casamento, incorpora a Madonna na pista de dança e acorda de ressaca? CULPADA! CULPADA! CULPADA! E COM AGRAVANTES: MOTIVO FÚTIL OU TORPE, SEM CHANCE DE DEFESA DA VÍTIMA e USANDO ARDIL. PENA MÁXIMA PARA VOCÊ: A CULPA TE ACOMPANHARÁ PELOS PRÓXIMOS VINTE ANOS!
Amiga, estamos perdidas! O que faremos? Algumas recorrem às instâncias superiores, aos antidepressivos, à compulsão, à terapia, mas há aquelas que sucumbem e aprendem a conviver com a danada. Juntam-se ao inimigo. Mas, e viver sem culpa? Onde vende? Precisa de receita? Tem no meu tamanho? Ainda na sei, mas prometo que, quando descobrir, eu te conto...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Família Nogueira

Quem primeiro cunhou este termo foi uma amiga dos tempos da faculdade. Nada contra quem carrega o sobrenome, que, aliás, tem uma definição bem interessante dada pelo Wikipédia: a planta que produz a noz.  A família Nogueira seria uma espécie do gênero tão bem defendido pela Família do Lineu Silva e de Dona Nenê. O pai funcionário público, a mãe, dona de casa. O carro da família com um adesivo “amo meus filhos”; a praia do sábado com a família toda, cada um levando sua merendinha a tiracolo, a passagem de ano na Lagoa de Iguaba, a cervejinha como companhia da partida de futebol aos domingos, a camisa regata apertada do papai com a pancinha cabeluda para fora, a aparentada toda reunida em dia de festa comendo empadão de galinha e tomando refrigerante em garrafa pet...quem não conhece? Os Nogueira são, antes de tudo, brasileiros. E felizes. The end.

Os Outros

A vida muda a gente, é fato. Eu já amarguei o gosto de fel da inveja de uma barriguinha sarada lá nos meus longínquos 20 anos, de uma conta bancária polpuda que me permita viajar all around the globe ou até de um filho que durma a noite toda. (devo confessar: esses dois últimos: eu AINDA invejo fervorosamente).
Mas surgiu uma nova erva daninha dentro de mim depois dos 30: a inveja daquelas pessoas leves, que não se estressam com nada e que vivem absortas nos seus infinitos particulares. Aquelas que não se incomodam com um inimigo permanente, sempre a espreita para dar o bote: OS OUTROS.
Certamente quem é do tipo estressadinha como eu já reparou que a fonte do estresse reside, sempre, nos outros. E são inúmeros exemplos, que se reproduzem diariamente, como coelhos no cio: o seu dileto vizinho que alcança o elevador com uma distância de 1 minuto a sua frente e rapidamente entra, distraído, fingindo que não te vê; a idosa tagarela que senta ao seu lado no metrô quando você está na sua versão 5.0 do seu mau humor matinal e conta, sem intervalo, os últimos 50 anos de sua vida, o motorista apressadinho que corta você no trânsito incorporando o Schumacher para ficar parado no sinal a poucos metros a frente, e bem do seu lado...
Eu sei que eu mesma devo ter sido, algumas vezes, a vizinha distraída ou, pior, a passageira distraída que finge não perceber as dezenas de seniores e gestantes a sua volta (sim, já fiz isso, mas já fui vítima também), mas isso é papo para outro dia. Afinal: eu também incomodo! Mas como viver sem se incomodar com os outros? Sendo uma alma superior, sublime, devotada a Nossa Senhora dos que não se incomodam! Haja inveja! Porque isso eu não consigo evoluir nem nas próximas 20 encarnações...

Por que Descomprimir?

Eu andava, há tempos, animada com a idéia de escrever em um blog. Mas a advogada que existia dentro de mim sempre me impedia. Porque a idéia não era escrever MAIS UM blog, mas um que desse, ao cotidiano de todas nós, mulheres, trabalhadoras, mães, uma pincelada bem humorada um tanto politicamente incorreta, aliviando o peso da rotina. Aquilo que todo mundo pensa, mas ninguém fala...e aí, inevitável, pensei nos efeitos jurídicos dessa decisão. Ser honesta, hoje, e dizer o que pensa é arma letal, de grosso calibre e efeito devastador. Você deve estar pensando: mesmo sendo advogada este receio ainda existe? Mas é justamente porque faço parte desta fauna tão peculiar que sei que existe uma porção de gente por aí que, nas palavras da querida e descomprimida Martha Medeiros  “dormem ofendidas para acordar milionárias”. Ou seja, acertaram na loteria do dano moral!
Mas alguém já disse que quem ama a palavra é perseguida por ela. E só descomprime depois que libertá-la...dito isso: Pardon my french, mas, acabei de apertar o FODA-SE (quero dizer, o enter) e vou ser feliz!!!!!