quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Em verso e prosa

Me invada. Me liberte. Me abrace. Não deixe o vazio cair sobre nós.
Me enlace. Me sufoque. Me prometa: cale a rotina. Não quero ouvir a sua voz.
Envolva-me com suas asas, inebrie-me com sua graça. Cante para mim.
Esteja por perto, mas não se aproxime muito. Guarde-me perto do seu peito e se tranque junto.
Venha por inteiro, cuide de juntar seus pedaços pelo ninho. Entregue-se sem medo e voe alto comigo, meu passarinho.
Dispa-se do passado. Vista-se avistando onde quer chegar. E esteja sempre pronto para quando a felicidade pousar.
Descarregue suas dores, cubra suas feridas, permita-se. Traga somente aquilo que lhe sirva. E dê uma nova chance a vida.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Bloco do Eu Sozinho

Alô fevereiro seja parceiro: nos dê dias de sol, serpentina e pandeiro. Quero sair na avenida, desfilar meu sorriso pelas ruas do meu Rio de Janeiro. Ei, você aí, cadê meu abadá? Chegou a hora! “Simbora” no bloco “alegria com hora marcada”.
Peraí! Um momentinho: "silêncio, por favor".
Pausa para reflexão.
Ommmmm.
Retorno da reflexão.
Isso não é uma crônica, perdoem-me. É um desabafo. E um abraço naqueles que se sentem sozinhos, perdidos, atônitos assistindo a esta felicidade industrializada que se convencionou chamar de carnaval.
É festa profana para alguns, para mim são doses cavalares de tudo que afeta minha sensibilidade: barulho, calor, gente. Não temos como fugir, somos uma ilha de fantasias e para onde quer que olhemos a onipresença do batuque nos oprime porque nos obriga a participar desta festa. Mesmo que não confirmemos presença...
Viu só, não é só você...
Mas somos poucos, poucos que pensam que tudo em excesso nesta vida cansa e enjoa. Aliás, poucos que, simplesmente, pensam. A alegria de verdade talvez resida na ausência de questionamentos, na capacidade de divertir-se em qualquer ambiente sem racionalizar demais.
É claro que adoro estar com amigos, dançar e me divertir, brincar de ser um personagem, mas nem sempre esta vontade me atinge todos os anos, na mesma data. Às vezes gosto de carnaval no inverno, outras, quando chego em casa e vejo minha filha correndo ao meu encontro. Gosto de carnaval quando estou rodeada por quem amo e por quem me ama, ou quando sou positivamente surpreendida com uma peça do destino.
Mas recuso qualquer oferta embalada na obrigação social de felicidade, de esquecer quem eu sou só porque estou no meio da multidão enfurecida por alegria, ávida por preencher seu vazio existencial com bebida e música aos berros.
Sei não. Eu até posso dar meus pulinhos ensandecidos, mas felicidade para mim é outra coisa. E mora longe a beça deste frenesi ensurdecedor chamado carnaval.
Para os que ficam, boa festa. E não se esqueçam de levar engov, filtro solar, água mineral aos litros e bom senso. E vocês mesmos.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Lavar a Alma

Parabéns, você é uma pessoa de sorte! Acaba de ser premiada com a dica de um milhão de dólares: encontre um regador para a sua alma. Não sabe onde compra? Tá em falta no mercado? Serve um genérico: um chuveiro, uma cachoeira, um banho de chuva. Não importa, mas, por favor, prometa que  vai atrás de algo que lave a sua alma. Todos os dias, de preferência. Vá lá, duas ou três vezes por semana também serve.
Somos vítimas, indefesas, todo o tempo, do bombardeio dos anúncios midiáticos da religião do politicamente correto. Não coma sal! Combata os radicais livres! Faça exercícios físicos regularmente! Evite gordura hidrogenada! E ninguém lembra dela, coitada, a pobre da sua alma!
Lavar a alma é ter um amortecedor pessoal de estresse, um brinquedinho qualquer que libera a sua energia e lhe reconecta com o mundo. E em um mundo de escassez de recursos naturais se reabastecer de energia é a ordem do dia, caso contrário o corpo pifa e acaba precisando ser reanimado com energia química, industrializada, fabricada em laboratório e que precisa de receita médica. Quero não. Prefiro a endorfina, essa danada que muita gente só conhece de nome porque nunca se esforçou para conhecê-la pessoalmente.
Não é fácil manter a disciplina de lavar a alma. Nosso erro é colocar este item lá no final da nossa lista de prioridades. Agora já avisado, não caia mais nesta armadilha, nobre leitor! Procure, insista, experimente alguma coisa que lhe alivie. A vida só começa a ficar mais leve depois que você reconhece a vital necessidade de ser dar este mimo. Fique atento ao seu redor, muitas vezes a válvula de escape está ao seu alcance e é de graça: um banho de mar, um bom livro, o cinema do final de semana, um esporte, o chopinho depois do expediente... 
O mundo seria tão melhor se cada um cuidasse de regar sua alma. Os índices de violência cairiam, tenho certeza, e o consumo de antidepressivos também...
    Uma pessoa de alma lavada, dizem os especialistas, vive mais e melhor. Mesmo que contrarie todos os dogmas politicamente corretos. No mínimo, vale a aposta. Tenta, vai!