segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sonata da Mulher Moderna

Abro os olhos. Levanto. Lavo o rosto. Troco fralda, faço mamadeira, mudo a roupa. Arrumo a cama, arrumo a sala. Apronto a bolsa. Me visto. Tomo café. Brinco com ela. Levo-a para passear. Passo no mercado, faço compras. Volto. Esquento o almoço. Ela rejeita. Insisto, faço uma graça. Ela come. Hora do banho. Hora do sono. Ela não dorme. Eu me impaciento. Insisto. Ela cede. Suspiro. Arrumo o banheiro. Lavo a louça. Comer, tomar banho ou descansar? Arrumar os brinquedos. Tomo banho. Enquanto almoço, ela desperta. Interrompo. Vou até o quarto. Brincamos. Hora do lanche.Mais uma voltinha na rua. Banho de novo. Jantar. Cama. E alguns dramas. Janto. Ajeito a cozinha. O marido quer atenção, quer carinho, quer conversar. Escovo os dentes. Ponho o pijama. Dou a mamadeira.Troco a fralda. E desmaio. Amanhã ainda é segunda-feira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Coruja

Muito prazer, sou uma mãe coruja! Sou novata no grupo, ainda estou me enturmando. Mas os sintomas já estão aparecendo, e ando assustada comigo mesma. Onde foi parar meu bom senso, meu equilíbrio, minha sensatez?
Acordo de madrugada e vou ver se minha corujinha está respirando. Se fico na dúvida, só volto a dormir tranqüila depois de uma esbarradinha de leve para ver se ela reage e se mexe um pouquinho. Nada grave, né, doutor?
Palpitações às vezes me acometem, especialmente quando ela faz beicinho, os lábios tremendo, instantes antes de chorar. Ou quando abre o sorriso, espreme os olhinhos e vira o rostinho para o lado, esperando aprovação.
Sinto até tonturas quando a vejo dando gritinhos de alegria, no pique e esconde que improvisamos na sala de jantar, ou quando, cheia de si, e com autoridade, retira qualquer distração das minhas mãos que me fazem perdê-la de vista por alguns segundos.
E tem mais. Fico sem ar, sem fôlego, sem chão, quando as gargalhadas invadem aquele pequenino ser cada vez que se decreta o início do ataque de cosquinhas.
Vejo meus olhos úmidos, marejados, quando a percebo crescida, balbuciando palavras, em especial quando chama “Mamãe”.
Sou acometida de uma graça um tanto divina quando seus olhinhos me procuram e vêem ao meu encontro, se unindo a mim em um abraço.
O diagnóstico se confirmou, nem exame careceu de ser feito.
“Corujice aguda, minha senhora, sem medo de errar.”

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Brava Gente!

Brasileiro é um povo muito peculiar. Quando está no Brasil, fala mal dos seus compatriotas, reclama dos políticos, dos impostos, da má educação no trânsito. Quando viaja, se orgulha de sua raiz verde e amarela, a ponto de perambular por uma avenida européia com o manto da seleção canarinha, todo cheio de si. Para ser admirado, claro, vaidoso que é...
Brasileiro chama atenção em qualquer lugar do mundo, também, pudera, fala alto, conta piadas, se exibe no idioma local e gosta de mostrar intimidade. Puxa assunto, troca idéias, dá dicas da sua terra, todo orgulhoso. Não tem medo do mico. Anda em bandos, compra de tudo, paga excesso de bagagem, e está sempre carregando uma sacolinha. Souvenirs e imã de geladeira? Lembrancinhas para os amigos? Victoria Secret para as funcionárias? Chocolate para os colegas de trabalho? Brasileiro é parceiro! Não esquece de ninguém.
Brasileiro adora andar de metrô para se sentir local. Gosta de tirar foto de paisagem com máquina cara, de grife, e depois espalhar pelas redes sociais...low profile? No, thanks...
Brasileiro é enxerido, presta atenção na conversa da mesa do lado e se controla para não dar palpite. Trata futebol como religião e religião como esporte, diz que é praticante, mas, na prática...
É barulhento, apaixonado, intrometido, exagerado. É solidário nas horas difíceis, mesmo com quem não conhece. Precisa de pouco para se divertir: um dia de sol, uma cerveja gelada, um churrasco com os amigos. Ou tudo isso junto. Brasileiro é coisa nossa!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Filha da Culpa Cristã

A culpa é um fardo que todas as mulheres carregam desde que nascem. Isso explica, em parte, o fato de estarem sempre querendo emagrecer uns quilinhos...mas acredite, se além disso você ainda for mãe e criada numa família católica, poor you: sinal vermelho por excesso de peso: 50 dólares por cada quilo excedido and have a nice trip! Durma com um barulho desses!
Você quer viajar sozinha sem filhos? CULPADA! Você precisa sair da dieta e comer um brigadeirozinho inofensivo? CULPADA! Você quer fugir daquela sonífera reunião de família e inventa uma mentirinha? CULPADA! Você PRECISA daquele vestido de 600 reais que vai fazê-la entrar no cheque especial para ir ao casamento da sua melhor amiga? E bebe um pouquinho a mais no casamento, incorpora a Madonna na pista de dança e acorda de ressaca? CULPADA! CULPADA! CULPADA! E COM AGRAVANTES: MOTIVO FÚTIL OU TORPE, SEM CHANCE DE DEFESA DA VÍTIMA e USANDO ARDIL. PENA MÁXIMA PARA VOCÊ: A CULPA TE ACOMPANHARÁ PELOS PRÓXIMOS VINTE ANOS!
Amiga, estamos perdidas! O que faremos? Algumas recorrem às instâncias superiores, aos antidepressivos, à compulsão, à terapia, mas há aquelas que sucumbem e aprendem a conviver com a danada. Juntam-se ao inimigo. Mas, e viver sem culpa? Onde vende? Precisa de receita? Tem no meu tamanho? Ainda na sei, mas prometo que, quando descobrir, eu te conto...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Família Nogueira

Quem primeiro cunhou este termo foi uma amiga dos tempos da faculdade. Nada contra quem carrega o sobrenome, que, aliás, tem uma definição bem interessante dada pelo Wikipédia: a planta que produz a noz.  A família Nogueira seria uma espécie do gênero tão bem defendido pela Família do Lineu Silva e de Dona Nenê. O pai funcionário público, a mãe, dona de casa. O carro da família com um adesivo “amo meus filhos”; a praia do sábado com a família toda, cada um levando sua merendinha a tiracolo, a passagem de ano na Lagoa de Iguaba, a cervejinha como companhia da partida de futebol aos domingos, a camisa regata apertada do papai com a pancinha cabeluda para fora, a aparentada toda reunida em dia de festa comendo empadão de galinha e tomando refrigerante em garrafa pet...quem não conhece? Os Nogueira são, antes de tudo, brasileiros. E felizes. The end.

Os Outros

A vida muda a gente, é fato. Eu já amarguei o gosto de fel da inveja de uma barriguinha sarada lá nos meus longínquos 20 anos, de uma conta bancária polpuda que me permita viajar all around the globe ou até de um filho que durma a noite toda. (devo confessar: esses dois últimos: eu AINDA invejo fervorosamente).
Mas surgiu uma nova erva daninha dentro de mim depois dos 30: a inveja daquelas pessoas leves, que não se estressam com nada e que vivem absortas nos seus infinitos particulares. Aquelas que não se incomodam com um inimigo permanente, sempre a espreita para dar o bote: OS OUTROS.
Certamente quem é do tipo estressadinha como eu já reparou que a fonte do estresse reside, sempre, nos outros. E são inúmeros exemplos, que se reproduzem diariamente, como coelhos no cio: o seu dileto vizinho que alcança o elevador com uma distância de 1 minuto a sua frente e rapidamente entra, distraído, fingindo que não te vê; a idosa tagarela que senta ao seu lado no metrô quando você está na sua versão 5.0 do seu mau humor matinal e conta, sem intervalo, os últimos 50 anos de sua vida, o motorista apressadinho que corta você no trânsito incorporando o Schumacher para ficar parado no sinal a poucos metros a frente, e bem do seu lado...
Eu sei que eu mesma devo ter sido, algumas vezes, a vizinha distraída ou, pior, a passageira distraída que finge não perceber as dezenas de seniores e gestantes a sua volta (sim, já fiz isso, mas já fui vítima também), mas isso é papo para outro dia. Afinal: eu também incomodo! Mas como viver sem se incomodar com os outros? Sendo uma alma superior, sublime, devotada a Nossa Senhora dos que não se incomodam! Haja inveja! Porque isso eu não consigo evoluir nem nas próximas 20 encarnações...

Por que Descomprimir?

Eu andava, há tempos, animada com a idéia de escrever em um blog. Mas a advogada que existia dentro de mim sempre me impedia. Porque a idéia não era escrever MAIS UM blog, mas um que desse, ao cotidiano de todas nós, mulheres, trabalhadoras, mães, uma pincelada bem humorada um tanto politicamente incorreta, aliviando o peso da rotina. Aquilo que todo mundo pensa, mas ninguém fala...e aí, inevitável, pensei nos efeitos jurídicos dessa decisão. Ser honesta, hoje, e dizer o que pensa é arma letal, de grosso calibre e efeito devastador. Você deve estar pensando: mesmo sendo advogada este receio ainda existe? Mas é justamente porque faço parte desta fauna tão peculiar que sei que existe uma porção de gente por aí que, nas palavras da querida e descomprimida Martha Medeiros  “dormem ofendidas para acordar milionárias”. Ou seja, acertaram na loteria do dano moral!
Mas alguém já disse que quem ama a palavra é perseguida por ela. E só descomprime depois que libertá-la...dito isso: Pardon my french, mas, acabei de apertar o FODA-SE (quero dizer, o enter) e vou ser feliz!!!!!