quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Novo ano

Neste novo ano, eu quero dias mais longos e noites mais curtas;
Eu quero dias de chuva e tardes de arco íris;
Eu quero arriscar mais e temer menos;
Eu quero falar menos e ouvir mais;
Eu quero perder o fôlego.
Eu quero rosas na mesa de jantar às sextas feiras;
Eu quero pisar na grama uma vez por semana;
Eu quero viajar para destinos desconhecidos;
Eu quero banhos de mar. E sol na janela ao despertar.
Eu quero realizar um sonho de infância. E quero nadar em águas profundas;
Eu quero amigos do peito por perto e risos de criança nos ouvidos;
Eu quero dançar de pés descalços.
Eu quero sorver palavras novas;
Eu quero que o mundo pare quando estiver tocando  música;
Eu quero quebrar regras só de vez em quando.
Neste novo ano, eu quero ouvir minha filha dizer “eu te amo”.

Epifania

Foi num dia de outubro que eu tive a epifania. Eu andava cheia de dúvidas, e elas andavam me consumindo. Eu precisava encontrar a luz, ou qualquer outra coisa que tivesse uma fagulha e me iluminasse. Não sei ao certo o que me fez abrir a porteira, mas saiu muita coisa lá de dentro, viu, algumas um tanto impublicáveis. Fiquei animada, em êxtase, tudo fazia sentido agora. E metida que sou, corri atrás de alguém que me dissesse se o caminho era aquele mesmo. Mas eu não me contentaria com alguém qualquer, resolvi knocking on heaven´s door...e veja lá o que ouvi de resposta:

“On Dom 30/10/11 16:43 , RAFAELLA MARCOLINI rafaellamarcolini@hotmail.com sent:

Inspiradora Martha,

confesso que estou nervosa. As mãos frias, o coração acelerado, a boca seca só de pensar em você lendo, perdoe o clichê, essas mal traçadas linhas.

Sou sua leitora, de sempre. Nem lembro mais quando isso começou, sou daquelas que espero o jornal saindo do forno aos domingos e abro direto na Revista do Globo. Tenho que me apressar, sou mãe de uma menina de um ano, e sabe como é, se me alongo demais, ela se impacienta e começa a lutar contra o jornal, provocando um certo estrago...

Escrevo desde menina. Guardo comigo umas folhas velhas, amareladas, uns cadernos cheios de anotações, referências a notas mentais. Ainda tenho a máquina de escrever Olivetti, presente de natal dos meus 13 anos. E uma crônica publicada pouco depois, no livro "Escritores e Escritoras do Século XXI". Hoje em dia leio isso e fico até com vergonha, mas faz parte da minha "biografia", fazer o quê...

Mas estas palavras ficaram adormecidas dentro de mim, meio perdidas. Fiz Direito, tive que trabalhar, pagar as contas, sobreviver. Mas um vazio permanecia, e meu desejo de libertar essas palavras não era satisfeito com os textos jurídicos, tão protocolares.

Casei, entrei na terapia, minha filha nasceu. E nada preenchia o vazio. Lia muito, fazia alguns textos aqui e acolá, mas nada digno de nota. Nada com regularidade.

A vontade voltou, e eu abri a porteira, que estava represada dentro de mim. Não sei explicar o alívio que senti, quer dizer, nem preciso, você vai entender.

Estou perdida, apavorada e paralisada pelo meu senso crítico, que sempre me impediu de fazer o que amo. Preciso de ajuda. Não mostrei nada ainda para ninguém, tomei coragem e fui atrás de você primeiro. Acho que o diagnóstico só pode ser dado por uma especialista, a melhor de todas.

Estou, ainda, no estágio embrionário, e poucas coisas escrevi. Mas sinto uma ansiedade adolescente, como se precisasse parar tudo e escrever, escrever, escrever, por horas a fio até conseguir descomprimir...

Se você puder me fazer uma visita, rápida mesmo, de médico, eu agradeceria muitíssimo.

Meu blog é http://www.descomprimindo.blogspot.com/

Aguardo seu diagnóstico, se for possível.

Um  abraço forte,

Rafaella
To: rafaellamarcolini@hotmail.com
Date: Sun, 30 Oct 2011 19:52:10 +0000
Subject: Re: Muito prazer!
From: marthamedeiros@terra.com.br
Rafaella, obrigada pela querideza do teu email, eu também ganhei uma olivetti quando fiz 13 anos... Mas olha, dezenas de pessoas pedem pra eu avaliar seus textos, não tem como, e ainda mais agora: estou em Machu Pichu!!! Juro.
Mas valeu pelo carinho, fico na torcida por você!
Bjs,
Martha “
Desde então não se passou um único dia sem que eu acordasse com uma vontade arrebatadora de escrever. E se fez a luz! Nasceu este filho!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sinal dos Tempos

Eu guardo minhas incoerências bem escondidas, e morro de medo de alguém descobri-las. Tenho mais vergonha delas do que de unha roída, do que de alface no dente, do que de meia furada. Mas não vou negar, as minhas existem aos montes. Pedir um lanche gordurento num fast food acompanhado de um refrigerante zero caloria é meu pecado incoerente mais básico, e mais comum, confesso. Existem tantos outros, bem mais sofisticados, e que cometemos sem nem mesmo perceber. Reclamar da vida, mas permanecer acomodados, suspirar que estamos falidos e continuar gastando dinheiro, apontar os erros dos outros e justificar os nossos....são um sem número de exemplos que fingimos não ver e que nos acompanham ao longo da vida, todos os dias.
Não é simples negar e enfrentar nossas contradições, esse movimento exige esforço + energia, combustíveis escassos, que andam racionados tamanha é a quantidade de tarefas que exigem essa equação química hoje em dia. Mas é preciso ter cuidado, incoerências em excesso deixam a alma deformada, ridícula, bufona. E nunca antes na história da humanidade, viu-se tamanhas contradições! Mulheres com rostos esticados, mas corpos enrugados, atletas, exemplos públicos de saúde, que se revelam viciados: em álcool, em sexo, em drogas, pais de família de dia, que se transformam a noite, e por aí vai.
Sejam bem vindos à era da aparência, e acomodem-se para viver intensamente a sua incoerência! Qualquer sentimento espontâneo e autêntico é alvo de arma de fogo, nossa missão é  nos enquadrar nos vidrinhos com rótulos que recebemos ao nascer. E não se rebele: nada de trocar de embalagem, a sua está predestinada! Se for mulher, estude, mas não muito, porque homem não gosta de fêmea intelectualizada, case com seu primeiro namorado, de preferência quase virgem - se é que isso existe -, tenha um casal de filhos e trabalhe, mas pouco para dar atenção a prole e ao marido. Seja boa dona de casa, aprenda a cozinhar e cuidar da família. Conforme-se com seu vidrinho e evite reclamações no horário do expediente!!
Aff! Quem é que não precisa de uma dose tripla e cowboy de contradição com um roteiro desses?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Alguém?

Quem nunca brincou de pega, comeu meleca, escondeu pereba? Quem nunca dormiu na aula, teve uma amiga Paula e uma dor na alma? Quem nunca tomou picolé de uva, pichou uma blusa, tomou banho de chuva? Quem nunca fez brigadeiro, foi mochileiro, quis ser bombeiro? Quem nunca chorou sozinho, tomou um porre de vinho, xingou o vizinho?  Quem nunca colou na escola, fundiu a cachola, pisou na bola? Quem nunca comeu besteira, acordou com olheira, no verão teve frieira? Quem nunca teve medo, cortou um dedo ou contou um segredo? Quem nunca ficou de castigo, ou a perigo ou sem amigo? Quem nunca quis sumir, morreu de rir ou fingiu sorrir? Quem nunca cantou errado, beijou um safado, contou um babado? Quem nunca palitou os dentes, falou com duendes, fez o jogo do contente? Quem nunca sonhou com o dia que alcançaria todos seus desejos de menina?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Mensagem de natal

Acabei de mandar minha mensagem de natal para as minhas amigas. Doei minhas palavras e minha sabedoria de conta-gotas. Vou dividir com vocês, porque é um conselho de mãe, na verdade. Despretensioso, mas cheio de amor. E conselho é como beijo, como carinho, não precisa experimentar, escolher ou trocar: é gratuito e vale para qualquer um que quiser recebê-lo. Pode pegar o seu exemplar e use com moderação! Boas festas!

" Meninas,
Não pretendo invadir a caixa de mensagens de vocês com mais algum clichê natalino. Quero, apenas, aproveitar esta época do ano, propícia a reflexões, e desejar, a todas, coisas simples, mas que valem muito.
Saibamos separar o que é importante do que não é, evitando gastar energia com o que não vale a pena. Não poupemos só dinheiro, mas a nós mesmas. Tenhamos sempre uma dose extra de paciência, de cautela e de energia, para qualquer emergência. Sejamos nossa melhor amiga, não nos sabotemos! Por fim, sejamos mais simples e mais honestas conosco, criando metas alcançáveis e flexíveis. Vamos ser felizes com o que temos!  E não vamos deixar a rotina nos afastar de quem é importante!
Longe ou perto, desejo sempre o melhor para cada uma!
Feliz Natal e um 2012 caprichado!"


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guerra dos Sexos

Já decidi. Na próxima encarnação quero nascer homem. E não é para usufruir dessas bobagens machistas de fazer xixi em pé e andar sem camisa, o que preciso é sentir alguns prazeres mundanos que não vivenciarei com profundidade nesta casca fêmea.
Preciso saber por que uma partida de futebol exerce tamanho fascínio para a macharada, prática singela e consideravelmente mais econômica que a equivalente tarde de comprinhas da espécie feminina.
Quero entender se a dificuldade de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo é real ou uma falácia, um factóide convenientemente criado pelo universo masculino para justificar seu ócio improdutivo.
Eu realmente preciso confirmar se uma despedida de solteiro pode ser, apenas, um chopp com amigos como eles apregoam ou, como desconfiamos, existe, obrigatoriamente, por exigência protocolar do contrato que assinam ao nascerem “machos”, a presença entre eles de uma femme fatale despudorada e de poucas vestes E, acima de tudo, se o sexo é, de fato, uma necessidade fisiológica de tamanho apelo ou se isso é mais uma bullshit  para explicar biologicamente as puladas de cerca tão íntimas do lado de lá.
Vamos lá, que mulher não gostaria de entender a capacidade do seu marido em resolver todo e QUALQUER problema numa mesa de bar por muitas horas e intermináveis rodadas de “saideira” com seus melhores amigos?
A vida é mais fácil para os homens, não tenho dúvida! Menos drama, mais diversão, menos responsabilidades. E não me chame de machista, cara cética leitora: precisamos enfrentar o fato de que somos biologicamente diferentes e que existem tarefas que se encaixam melhor neles e outras em nós, por conta dessas adaptações evolutivas.
Mas o que eu queria mesmo, não vou negar, é nascer homem e depois voltar para o outro lado da trincheira para usar toda insider information  que adquiri contra eles e vencer esta guerra dos sexos de uma vez por todas! Quem me acompanha?


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Saudações Natalinas

E lá se vai mais um calendário de mesa para o lixo. Ano findo, lições aprendidas, resoluções de ano novo e todo esse blá, blá, blá natalino. Astrólogos alçados a personalidades em entrevistas nos programas de domingo, simpatias para a virada. Diga aí, caro leitor: qual é a cor da roupa íntima que você vai usar para atrair sorte? E para Amor? Dinheiro? E como vai usar o dinheiro extra de final de ano? As pautas jornalísticas se repetem, cheiram a mofo, à roupa guardada que usamos uma vez por ano.
O espírito natalino me comove. Pessoas estressadas em todos os lugares. Trânsito caótico, lojas inchadas de consumidores endividados, e pedintes por todos os lados. Seu porteiro, seu carteiro, seu jornaleiro: todos se transformam em almas sedentas pelo dinheiro alheio e abusam da criatividade que lhes falta o ano todo para bolar todas as formas possíveis de constrangimento público: caixinhas de natal, bilhetinhos de confraternização em envelopes para serem devolvidos com alguma lembrança, livros de ouro e por aí vai. Somos reféns da cultura consumista americana. Não há escolha, nem opção, o dinheiro ganho tem que ser gasto, com a família, com os colegas, com os amigos, com os desconhecidos, com os pobres, com os órfãos. Precisamos impulsionar a roda da fortuna! O dinheiro precisa girar, e você, meu amigo, como brasileiro, como cristão, deve fazer a sua parte! Dê preferência para as compras de última hora, que é bem mais emocionante, afinal, enfrentar a maratona de final de ano tem o seu mérito. Emende com o churrasco dos colegas de trabalho, com o preparo da receita de peru de algum programa vespertino, com o amigo oculto dos seus amigos de faculdade e, ufa!, complete o programa com uma visita a árvore de natal da Lagoa. Pronto! Agora sim: Feliz Natal!


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Paixões Nacionais

Às vezes confesso que me pergunto se nasci no País certo. Algumas paixões nacionais me são completamente estranhas, por exemplo: futebol, cervejinha e verão. Não vou negar que gosto de uma prainha, mas sob estritas condições. Pouca gente, nada de vento, e calor agradável, sem torrar os miolos a seco. E o mar tem que estar para peixe, gostoso, calminho, propício a nadar até depois da arrebentação. Fora isso, resisto em sair do conforto de um ambiente climatizado com um copo de algo gelado ao alcance da mão. Mas sou daquelas que acaba cedendo e vou à praia muitas vezes para rever amigos, ainda que nenhuma das alternativas acima esteja do meu agrado.
O fato é que me incomoda a sensação de calor, de desconforto que ele provoca e de constrangimento público de ter que socializar quando seu corpo está pouco convidativo a qualquer contato mais próximo. E, todos sabemos, a tropicália gosta de um aperto caloroso, de tapinha nas costas, de segurar no braço. Somos um povo afetuoso, mesmo nos meses em que o Senegal é aqui. Talvez se eu fosse membro fundador da Cervejinha Futebol Clube eu relaxasse um pouquinho mais e apreciasse as “benesses” de um país tropical, afinal, em que outro lugar do mundo a cerveja é estupidamente gelada?
E tem mais outra. Vou morrer sem conhecer o prazer que as pessoas sentem com a vitória de seu time de coração. A ansiedade e a vibração que sentem ao comemorar um gol, a alegria de secar o time adversário. Não basta ganhar, na lógica futebolística, o seu rival tem que perder também. Que sentimento mais nobre, não?
Eu não preciso, realmente, de mais um fator de estresse e de tensão na minha vida, aliás, domingo para mim é o sétimo dia, o dia sagrado de descanso. Então, divirtam-se, people, mas não me convidem para a dobradinha praia (insolação) e futebol (confusão) num domingo de verão. Chega de emoções fortes. Na minha idade, preciso me cuidar!