quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Epifania

Foi num dia de outubro que eu tive a epifania. Eu andava cheia de dúvidas, e elas andavam me consumindo. Eu precisava encontrar a luz, ou qualquer outra coisa que tivesse uma fagulha e me iluminasse. Não sei ao certo o que me fez abrir a porteira, mas saiu muita coisa lá de dentro, viu, algumas um tanto impublicáveis. Fiquei animada, em êxtase, tudo fazia sentido agora. E metida que sou, corri atrás de alguém que me dissesse se o caminho era aquele mesmo. Mas eu não me contentaria com alguém qualquer, resolvi knocking on heaven´s door...e veja lá o que ouvi de resposta:

“On Dom 30/10/11 16:43 , RAFAELLA MARCOLINI rafaellamarcolini@hotmail.com sent:

Inspiradora Martha,

confesso que estou nervosa. As mãos frias, o coração acelerado, a boca seca só de pensar em você lendo, perdoe o clichê, essas mal traçadas linhas.

Sou sua leitora, de sempre. Nem lembro mais quando isso começou, sou daquelas que espero o jornal saindo do forno aos domingos e abro direto na Revista do Globo. Tenho que me apressar, sou mãe de uma menina de um ano, e sabe como é, se me alongo demais, ela se impacienta e começa a lutar contra o jornal, provocando um certo estrago...

Escrevo desde menina. Guardo comigo umas folhas velhas, amareladas, uns cadernos cheios de anotações, referências a notas mentais. Ainda tenho a máquina de escrever Olivetti, presente de natal dos meus 13 anos. E uma crônica publicada pouco depois, no livro "Escritores e Escritoras do Século XXI". Hoje em dia leio isso e fico até com vergonha, mas faz parte da minha "biografia", fazer o quê...

Mas estas palavras ficaram adormecidas dentro de mim, meio perdidas. Fiz Direito, tive que trabalhar, pagar as contas, sobreviver. Mas um vazio permanecia, e meu desejo de libertar essas palavras não era satisfeito com os textos jurídicos, tão protocolares.

Casei, entrei na terapia, minha filha nasceu. E nada preenchia o vazio. Lia muito, fazia alguns textos aqui e acolá, mas nada digno de nota. Nada com regularidade.

A vontade voltou, e eu abri a porteira, que estava represada dentro de mim. Não sei explicar o alívio que senti, quer dizer, nem preciso, você vai entender.

Estou perdida, apavorada e paralisada pelo meu senso crítico, que sempre me impediu de fazer o que amo. Preciso de ajuda. Não mostrei nada ainda para ninguém, tomei coragem e fui atrás de você primeiro. Acho que o diagnóstico só pode ser dado por uma especialista, a melhor de todas.

Estou, ainda, no estágio embrionário, e poucas coisas escrevi. Mas sinto uma ansiedade adolescente, como se precisasse parar tudo e escrever, escrever, escrever, por horas a fio até conseguir descomprimir...

Se você puder me fazer uma visita, rápida mesmo, de médico, eu agradeceria muitíssimo.

Meu blog é http://www.descomprimindo.blogspot.com/

Aguardo seu diagnóstico, se for possível.

Um  abraço forte,

Rafaella
To: rafaellamarcolini@hotmail.com
Date: Sun, 30 Oct 2011 19:52:10 +0000
Subject: Re: Muito prazer!
From: marthamedeiros@terra.com.br
Rafaella, obrigada pela querideza do teu email, eu também ganhei uma olivetti quando fiz 13 anos... Mas olha, dezenas de pessoas pedem pra eu avaliar seus textos, não tem como, e ainda mais agora: estou em Machu Pichu!!! Juro.
Mas valeu pelo carinho, fico na torcida por você!
Bjs,
Martha “
Desde então não se passou um único dia sem que eu acordasse com uma vontade arrebatadora de escrever. E se fez a luz! Nasceu este filho!

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