sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desordem Mundial

O mundo está mesmo precisando sentar no divã, rever seus conceitos, tomar um lexotan. Olho em volta e por toda parte vejo mulheres iguais, em corpo e de alma. Muitos cabelos alisados, longos, pintados. Variações do mesmo tema:  muito de tudo que não lhes pertence: injeção de silicone, de botox, de lipospiração. Excesso de bronze, de brilho, de músculos. Exércitos de bonecas montadas, ensaiadas, esvaziadas.
Não há espaço para ser diferente, para a individualidade. Todos desejam os mesmos desejos. A criatividade perdeu a majestade, hoje, bastam cópias bem feitas. O pensamento e o ensinamento viraram fonte de tédio ou de esforço medido com régua e compasso.
Estamos todos sem tempo, sem afeto, sem talento. Amigos viraram peça de colecionador virtual, são muitos, mas não os vemos. A informação nos sufoca, nos arrebata, nos incomoda. Não há lugar para ignorantes, a não ser a marginalidade. O conhecimento do qual nos vangloriamos é raso, imperfeito, opaco. Nada se aprofunda, nada nos preenche. E continuamos correndo contra o tempo, sem saber exatamente porquê. Procurando uma bateria que nos recarregue em plenitude, e nada nos encaixa. Somos como ratos de laboratório, correndo sem sair do lugar. Mas estamos sempre bem na foto, felizes em nossos sorrisos clareados artificialmente, acomodados no conforto barato que o consumismo nos provoca.
Estamos cada vez mais só, mais doentes, mais infelizes, mas parecemos o contrário. Temos que sobreviver, representando este papel que nos foi dado nesta nova desordem mundial. Mas será que alguém mais, além de mim, realmente se importa com isso?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Por quê?

Sabe aquela pessoa que tem sempre uma pergunta no final da frase? Essa sou eu! A minha curiosidade por vezes beira a má educação, mas ainda assim, não há meios de reprimi-la. Ela tem vida própria, é voluntariosa, cheia de si.E não gosta de esperar. Lembrou de alguém? Pois bem, quem não conhece alguém como eu.
Ando envolvida com algumas questões um tanto preocupantes ultimamente. Pela sua relevância, acho que devem vir a público.
Respiro fundo e solenemente. E começo a sequência, aguardando respostas reconfortantes:
Por que as garrafas de água mineral estão cada vez menores? Por que entramos numa fila mesmo sem saber para que que serve? Por que compramos livros novos sem ter lido todos os antigos? Por que toda vez que vemos uma criança, esboçamos um sorriso? Por que sempre na nossa vez os ingressos acabam? Por que as pessoas fazem filas para lugares com assento marcado? Por que sentimos vontade de espirrar quando fazemos a sobrancelha? Por que antes de espirrar fazemos uma pausa? Por que sentimos fome toda vez que vamos ao supermercado? Por que estou escrevendo esta crônica ao invés de dormir, se estou exausta?
Não sei dizer. Vou dormir com as mesmas perguntas. Espero acordar com algumas respostas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Meus dez mandamentos

Direito é o estudo das teorias e dos princípios. Existem princípios sem fim, com perdão do trocadilho. Você aprende, estuda, decora. Acha lindo citá-los em seus recursos e apesar do tempo perdido com eles, os juízes dão de ombros. Usam os que gostam, e deixam de lado os outros. Mas eu insisto neles ainda assim. Adoro uma teoria assim como adoro um bom livro. Uso nas horas certas, para exercitar minha imaginação.
Há uma teoria jurídica especialmente interessante que deveria ser importada para nossa vida, a teoria da reserva do possível. Deixando para lá todo o desnecessário juridiquês que a envolve, e trocando em miúdos, a teoria diz o seguinte: o Estado tem o dever de prestar serviços, de honrar obrigações, de exercitar seus deveres, mas dentro dos limites do razoável, não se podendo exigir dele tarefas inexequíveis. O Estado é grande, é poderoso, mas não é mágico. Se o Estado não consegue, por que eu tenho que conseguir?
As vésperas de fazer aniversário, decidi aplicar a teoria da reserva do possível na minha vida. E acho que este deve ser um dos melhores presentes que me dei nos últimos 33 anos. Exigir de mim além da conta me deu um fardo pesado demais para carregar a ponto de causar estragos irreversíveis na minha espinha dorsal emocional. Hoje, só quero aquilo que seja possível, sem gelo nem limão, puro mesmo. Não vou me comprometer com tarefas que estão na minha lista pessoal a cada ano que entra e que nunca consigo realizar. Vou ser a melhor esposa, mãe, advogada e filha que conseguir ser, mas sem metas inatingíveis. Vou cuidar de mim também, ao invés de pensar sempre primeiro nos outros. Não quero mais emagrecer dez quilos, conhecer o mundo, ficar rica, quero estar em forma, viajar pelo mundo e ter uma vida confortável. Quero ter metas, mas sem sentir-me refém delas. Quero me permitir ser feliz, mesmo que a louça fique na pia no final de semana, mesmo que eu ultrapasse os vinte pontos da dieta do dia, mesmo que eu não dê conta do trabalho todo antes de entrar de férias, mesmo que as coisas saiam do controle de vez em quando. Vou tentar, prometo! Meu mantra: respirar fundo, segurar na mão de Deus e seguir em frente, baby. Sem olhar para trás!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gente de Verdade

Toda mulher vem de fábrica com o seu disparador pessoal de estresse. E, na maior parte das vezes, o bichinho vem desregulado.
Sentimos irritação com coisas que não combinam com nosso modelo bem sucedido de fêmeas desenvolvidas.
Conheço mulheres que se irritam com gente simpática. “Aff! ela ri demais, mostra os dentes demais, tem boa vontade demais”. Outras se pegam arrancando os cabelos com homens bonzinhos : “ele é muito certinho,  correto, perfeitinho...não serve para mim!”
Já conheci algumas que implicavam com homens vaidosos, outras que odiavam gente feliz...Freud ainda está tentando explicar...
Você entende o que digo: nunca estamos satisfeitas! Se temos o que queremos, queremos um pouco mais, ou se não temos o que queremos, sofremos pelo que não temos! Simples assim!
Eu sou do tipo que se incomoda com gente certinha. E como toda fêmea da raça, logo aciono o meu desconfiômetro ao me deparar com um indivíduo da espécie “perfeytus demays”. Gosto de gente que erra, que chora, que perde, que tem medo, que xinga quando está zangado, que fica carente quando está com medo. Não gosto daqueles que registram suas verdades em cartório, que nunca mudam de opinião, que brigam com os outros só para convencê-los que estão certos, que mostram mais que fazem, que fazem menos que podem. Não gosto. Nem de gente que está sempre feliz, sempre sem problemas, sempre com dinheiro no banco, sempre com filhos perfeitos, sempre tão falsos, tão estreitos.
Gosto de almas nobres, generosas, que mesmo que se arrependam depois, não cansam de ajudar e perdoar. Gente que insiste. Ou seja: Gente de verdade.