quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Instagreve


Estava eu em momento inspirador: atravessando a ponte Rio-Niterói, trânsito livre, aquela vista deslumbrante, no banco de trás ao lado da minha filha, ambas embasbacadas com aquela paisagem, quando me dou conta que minha mão se perde dentro das bolsa, retirando a atenção daquele momento, em busca da câmera do telefone. Não encontro na primeira tentativa, e insisto, já irritada, sem perceber que na janela, ao lado, a imagem está, pouco a pouco, saindo do meu ângulo de visão enquanto eu brigo com a minha bolsa que mais parece um buraco sem fundo. Quase derrotada, volto meu olhar novamente para a cena e penso “que se dane, quero aproveitar o momento”.

Não sou a única, certamente. Tenho reparado que a obsessão pela fotografia tem nos deixado menos presentes, como se fossemos uma versão retratada de nós mesmos, e só existíssemos, realmente, no mundo virtual. Opa, faz sentido isso?

Há tempos tenho reparado que pelos museus e pontos turísticos mundo afora as pessoas andam obcecadas com a melhor foto, o melhor ângulo, em prejuízo do momento em si, e, confesso, sou uma delas, mas em franca recuperação. Fotógrafos amadores e anônimos, somos um time.

A diversão mudou o foco, e agora além de viver temos que publicar o momento, e aguardar, ansiosos, pelos comentários que virão, sempre exultando nossas habilidades, nossa melhor pose, o melhor de nós. Nada de filtrar o que não merece ser visto, isso ainda guardamos a sete chaves.

E assim fotografamos cada passo da rotina, eternizando nosso ego, esse danado que nos vicia e nos seduz, mas pode, também, nos levar a ruína. Quem, de nós, nunca foi traído por ele?

Melhor guardarmos nossas câmeras, minha gente, e retirá-las da bolsa para momentos criteriosamente eleitos. No mais, façamos como eu que, aos quinze anos de idade, numa daquelas viagens cafonas de excursão adolescente pela Disney, quebrei minha máquina fotográfica no meio da viagem e fiquei absolutamente inconsolável no telefone com minha mãe, naquelas ligações relâmpagos, numa era pré-skype. Lembro que, naquela velocidade que éramos obrigadas a falar para evitar que a ligação telefônica ficasse mais cara do que a própria viagem (uma versão pré- anúncio do Ministério da Saúde ao final de alguns comerciais televisivos) minha mãe me disse: registra com a mente, filha, registra!