sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os Sem Mandamentos

Já posso começar? Separe lápis e papel, e preste atenção, a lista é grande.
Não tome sol entre dez e quatro da tarde. Use protetor solar. Beba dois litros de água por dia. Faça exercícios pelo menos três vezes por semana. Evite frituras e refrigerantes. Coma verduras e legumes diariamente. Não coma carboidratos a noite e nem exagere muito no sal. Faça check up regularmente, sobretudo se tiver mais de quarenta anos. Não fume, claro que não. Não coma gordura trans, seja lá o que isso quer dizer. Açúcar, moderadamente. (Isso é possível?). Não gaste mais do que ganhe (alguma mulher no recinto?). Pague o total do cartão de crédito ou renegocie a dívida. Escute mais do que fale. Não dê opinião na vida alheia, a menos que seja pedido. Amamente seu filho até seis meses, exclusivamente no peito (e vire-se caso tenha que trabalhar antes disso!). Faça uma boa ação de vez em quando, claro. Respeite os mais velhos. Use camisinha.Tenha um plano de previdência privada e uma poupança no valor de seis meses do seu salário. Aprenda a falar fluentemente um idioma. Não cobice o que não lhe pertence. Coma de três em três horas. Escove os dentes depois refeições, e passe fio dental também. Não desperdice água nem energia. Use produtos ecologicamente corretos e seja um consumidor consciente. Além dos óbvios conselhos bíblicos: mão mate, não cometa adultério, não roube e blá, blá, blá.
Anotou direitinho? Agora, o melhor conselho de todos: divirta-se! É que a regra de ouro nesta vida é a seguinte: somos todos responsáveis pelos nossos atos. Então, tire metade da bobagem que escutamos desde que nascemos e que não fazemos e que até hoje, amigo, não matou ninguém e vá fundo que eu vou junto!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Gente Grande

Acordei com uma presença ilustre em minha vida. Sei que esteve presente ao meu lado durante os últimos 34 anos. Dias bons, outros ruins, em nenhum deles me abandonou. Vez ou outra acordava eriçado, em outros, comportado, me enchendo de orgulho. Mas no meio de tantos outros, passava despercebido. Hoje, especialmente hoje, se destacou no meio da multidão. Um fio, minúsculo e tímido, quase escondido entre os demais, mas eu o vi, e ele estava lá, me encarando pálido, coitado, assustado. Era um fio de cabelo branco! “Só isso?” Você pergunta. “Ora, era de se esperar, no meio dos trinta, filha na escola, dez anos de formada.” Eu sei, eu sei, mas tomei um choque, um susto danado, reconheço. Chegaste tão cedo, nem me preparei direito para este dia. Ai meu Deus, já?
Se não foi outro dia que estava no colegial, estudando madrugadas a dentro para passar na faculdade de direito. Outro dia que conheci meu marido numa quinta-feira, festa do dia dos namorados numa boate da moda que já não existe mais há dez anos! Boate? Ui! Há dez anos?Aff! Envelheci mesmo... “Lembro como se fosse hoje”, “quando eu era criança”, “na minha época”- festival de expressões vintage que já andam sapateando nos meus lábios recentemente. É, o diagnóstico se confirma: sou gente grande, sem sombra de dúvidas.
Ainda estou nova, bem sei, hoje podemos viver bem e com saúde até noventa anos ou mais. Mas a sensação de que se já cresceu, que o tempo não volta mais, e que uma parte da sua vida faz parte da sua memória é algo perturbador, e que nos faz refletir sobre aonde se quer chegar. E ainda falta um bocado de caminho, que alívio! Meus planos vão se renovando, mas a vontade de fazer as coisas acontecerem continua a mesma. Ainda me reconheço, sou a mesma menina devoradora de livros e de sorvetes, que adora dançar, que escreve e fala compulsivamente. Sou eu, eu mesma, aquela da foto, à direita da professora, mas, graças, sem aquele cabelo pavoroso de vinte anos atrás. O meu sorriso continua o mesmo, pode conferir. Um pouco mais amarelado, com umas ruguinhas ao redor da boca, mas igualzinho.
Ao invés de olhar para trás, olho para baixo e me vejo ali, naquela criaturinha faladeira, agitada e comilona de dois anos de idade, meu pedacinho de mim, a continuação da estória que não para por aqui. Então o fio branco, solitário, desaparece, e se torna apenas um registro burocrático do tempo, totalmente inofensivo. Hei, Paul, ainda faltam 30 anos para eu fazer 64, para eu perder os fios que hoje só mudaram de cor. Somos jovens, e ainda temos todo o tempo do mundo, afinal.

 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sem Receita

Às vezes precisamos decodificar e adaptar as mensagens que recebemos por todos os lados ao invés de simplesmente introjetá-las. Moderação é que nem Bombril: serve para tudo nesta vida. Já basta engolir esses outdoors de autoajuda que a mídia vomita nos telespectadores nesta época do ano, vamos pensar, cada um, com sua própria cabeça, afinal, é para isso que Deus deu uma a cada um e não uma coletiva, de uso comum.
Sou uma dessas pessoas que sempre ouviu e cumpriu a máxima de “correr atrás do que se quer”. Empenho sempre foi meu sobrenome. No entanto, algumas vezes as coisas aconteciam, e outras tantas, não. Ficava intrigada com as pessoas que nada faziam e eram agraciadas com surpresas inesperadas. Meu espanto era tamanho que foi alvo de sessões seguidas de terapia. Sentia-me abandonada pela sorte, logo eu que tanto fiz para merecê-la!
Pensando sobre o assunto, consegui perceber uma linha comum de comportamento nesses sortudos invejados: eles não carregavam o peso da ansiedade, faziam a sua parte e, pasmem, sabiam esperar. E esperar não o relógio, mas o tempo das coisas, que é diferente do tempo do mundo, empacotadinho em horas, dias, anos. Enquanto o dia esperado não vinha, viviam suas vidinhas sem que o desejo se tornasse obsessão. Simples assim, como uma manhã de domingo. A diferença entre nós, o público fiel dos ansiolíticos, e eles, os que vinham de fábrica com uma produção interna de corta-ansiedade, era que eles não deixavam a vida em suspenso enquanto seus anseios não viravam realidade. Não diziam para si mesmos: “quando eu mudar de casa, faço isso”, ou “quando encontrar um  marido, faço aquilo”. Eles se viravam com o que tinham, e viviam felizes sabendo que um dia algo viria para modificar suas vidas. Não ficavam desenhando palitinhos na parede esperando o dia que seriam livres, já eram livres enquanto esperavam por este dia. Livres deste grande mal: a ansiedade.
Mas, vem cá, como é possível viver enquanto se espera? Eu diria que, apesar dos nossos maiores esforços, não somos nós que mandamos em nossas vidas. Contribuímos muito para o que virá, mas não há nada que possamos fazer que nos assegure o que iremos receber e quando. Esse é um dos maiores medos que temos que enfrentar, afinal, o de que nem tudo pode dar certo em que pese nosso sangue, suor e lágrimas. Não sei se essa constatação vai me trazer mais ou menos serenidade, ou se, de alguma forma, vai esvaziar meu ânimo para voltar à luta. Quem sabe me ajude a sintonizar a dosimetria certa de empenho e de esforço a verter em meus projetos, no que sempre exagerei na conta sem ver muito resultado. Ou, e prefiro este final para a história, que seja o início de uma revelação que me foi dada pela metade. Não sei. Só sei que devo me preocupar menos, e aprender a deixar um pouco mais frouxa esta rédea na qual eu seguro a minha vida. E sair galopando sem destino por aí vez ou outra.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

On the Rocks

Tenho ressaca da vida de vez em quando, sabe ressaca, gosto amargo na boca, vontade de colocar tudo para fora, ânsia, cansaço, vontade de nada.
Normalmente é efeito colateral dos excessos que cometemos diariamente: excesso de gente, de energia, de trabalho, de palavras. E então eu me recolho, quieta e contemplativa, esperando que tudo volte ao normal, que o rio deságüe no mar, que o cravo reencontre a rosa, que o mundo volte a girar. Talvez seja esta nossa inesgotável capacidade humana de acreditar, talvez seja, apenas, o final de um ciclo, ou a vontade soberana do criador. Mas este dia sempre acaba chegando, e eu me animo: mais um pilequinho, nova ressaca, e no final tudo volta ao normal novamente.
Mas sabe, ando mais seletiva, ultimamente. E esses porres de vida andam sendo mais esporádicos, embora mais prolongados. A resistência do organismo vai endurecendo, e mais e mais vezes ele reclama. Preciso obedecê-lo, dispensar quem me deixa enauseada, quem fala sem dizer nada, quem cansa meus ouvidos e me faz revirar os olhos, quem me dá uma surra de futilidade. Com esses, chega, não divido mais a mesa e não brindo mais nem com champagne.  Desta gente, juro, e ajoelho depois, não beberei jamais.
Quero novas fontes de vida, eu vou é procurar companhia em outros bares, com quem saiba dividir mais do que papo de bêbado, e que me acompanhe por outros caminhos. Com ou sem álcool, sem ou com gelo, mas que tenha coragem e seja autêntico.
Tenho ressaca é de gente falsificada.