terça-feira, 13 de novembro de 2012

Múltipla Escolha

Lá fora chove gatos e cachorros. Há amargura, e dor. Há quem queira desistir, quem não suporte mais esperar. Há quem deixou seu sonho para trás, quem se decepcionou, e há, também, quem não se dá por vencido, quem morre tentando. Há espaço para todos, há mundo para tudo. Basta escolher. E seguir em frente.
Posso ser a executiva super estressada, que coloca metas até para seu bebê de poucos meses: ele terá que andar com menos de um ano! Ela precisa de um filho bem sucedido para prolongar seus genes de sucesso.
Posso ser a sonhadora, romântica, aquela sem grana, que é cheia de ideais, que adora uma saia comprida florida, e pratica ioga três vezes por semana. Ou a intelectual ansiosa pelo próximo título acadêmico, que, orgulhosa de seu feito, conta entre um chope e outro que leu a obra de  Proust toda no original.
Quem sabe ser a mulher prática, sem frescura, que viaja o mundo todo, e vive morando num lugar diferente. Ou a hipocondríaca ansiosa, que vive mudando de médico, e se autoreceitando pílulas de sobrevivência.
Podemos escolher uma filipeta de papel aleatório, de olhos fechados, sorteando quem seremos, ou tomarmos uma decisão sensata, equilibrada, consultando a nós mesmos. Mas podemos ser qualquer coisa. E mudarmos de novo, se assim escolhermos. E de novo, e de novo. E isso não é incrível? Como ainda não despertamos para a maravilha do livre arbítrio? Lembro-me de ouvir, nas aulas de religião de outrora, que Deus nos deixava escolher, e foi assim que conheci essas duas palavrinhas: livre e arbítrio. E meu mundo mudou.  
 

Vida: Modo de Usar

As vezes dá vontade de parar de pensar. Parar de rodar esta máquina, trocar o óleo, deixá-la contemplativa, em manutenção.
Expurgar as infinitas possibilidades de ação, a dúvida de cada passo dado. Eliminar o “e se” do vocabulário. A tortura mental pelo arrependimento hipotético, daquilo que podia ser e não foi. Livrar-se das amarras deste exercício diário, trocá-lo por uma caminhada matinal, por power ioga, que seja meia hora de pique-pega com o filho já tá valendo.
Não deixar espaço para a cobrança pessoal, para o medo de errar é um desafio e tanto, obra de uma vida inteira.  E sempre haverá a dúvida daninha que insiste em brotar mesmo que sejamos vigilantes. Mas para que tanto drama? O caminho que escolhemos normalmente tem retorno, há chance de rever nossas decisões em quase todos os casos. Bem se vê que, no fundo, o medo é outro, é o de reconhecer que erramos e virar, a esquerda ou a direita, ao invés de seguir em frente.
Do que você tem medo, afinal? De reconhecer seus erros, de ter que explicar-se aos outros, do julgamento alheio? Ei, somos humanos, e faz parte deste script passar por essas fases, é o meio pelo qual se chega a algum lugar, se é que se quer sair do lugar. E nem pense em pular de fase, queimar etapas, tentar um atalho. No final das contas, a vida sempre alcança quem foge dela.
O veneno do julgamento alheio é algo contra o qual nem vale a pena lutar, desperdício de tempo e energia, quase um movimento sem sentido. Se radiografássemos o que está por trás de muitas dessas palavras ficaríamos surpresos com a quantidade de inveja, de ciúmes e de fraqueza que se disfarçam sob a máscara do “bom conselho”. Se precisar de alguma ajuda, procure quem realmente gosta e se importa com você. Para todos os outros, que falem sozinhos, e mordam a língua.