segunda-feira, 18 de março de 2013

Andar com Fé

Estudar em um colégio católico tem muitas utilidades. Noções de hierarquia e de disciplina são aprendidas quase com a mesma idade em que se aprende a andar e a falar. Desde cedo também se conhece um conceito muito válido para religiões e regimes políticos de pouca liberdade: o dogma. Longe de mim comparar as religiões aos sistemas absolutistas, mas, academicamente poder-se-ia dizer, ao menos, que bebem da mesma fonte. É a regra de poucas perguntas e muitos “amém”.
Não queira saber o porquê, o dogma é o contrário daquilo que os psicólogos ensinam que não devemos responder às crianças, é a ausência de motivação ou a ausência da intenção em responder a verdade, também conhecido como “Porque sim” ou “Porque não”.
Lembro-me que curiosa que sempre fui, questionava porque o Papa era infalível. Não tanto por não crer, mas mais por pura e infantil curiosidade, queria, na verdade, era saber como se chegava a este estado onírico de estar acima do erro. Nunca me responderam. Ou, ainda, por que razão não se podia casar e depois mudar de idéia e se separar. Por que não, o que havia de tão sagrado neste voto que não poderia ser desfeito? Se até os religiosos poderiam renunciar a batina.
Lembro-me ainda não entender o que existia na santa eucaristia que fazia com que fosse, mesmo depois de dois mil anos, parte do corpo de cristo. E isso sem dúvida me atormentava porque determinadas perguntas eram quase ofensivas dentro de um sistema educacional católico.
Não que eu acreditasse, aos 14 anos, que estaria ingerindo um pedaço original do corpo de Cristo – o que certamente me faria desistir da primeira comunhão- mas o que fazia com que aquele pedaço de biscoito sem gosto como que por mágica divina o representasse? E nisso consistia o tal do dogma, acreditar sem questionar, engolir sem mastigar. Aceitar, mesmo sem compreender.
Creio que passados longos anos, continuo professando minha fé, muito embora reconheça que para mentes ávidas por respostas como a minha, o dogma vez ou outra represente um obstáculo difícil de remover.
Entendo que a razão, per se, arruína qualquer forma de fé, até mesmo a fé mais pura, sem tradicionalismos ou rótulos, que é aquela fé em Deus, e não no ritualismo das religiões. Mas o homem é um ser pensante por natureza e dizer a ele que para seguir uma religião deverá deixar seu cérebro na geladeira é afastá-lo de sua essência, e, numa visão mais ampliada, do próprio Deus.
Vejo com simpatia, portanto, que os ventos estejam mudando na igreja Católica, e que um Papa intelectual, mas essencialmente humano seja o comandante deste navio.
Ainda respondo afirmativamente quando me perguntam se sou católica, sobretudo porque é a forma mais conhecida e familiar que tenho de enxergar a Deus. Memórias afetivas de uma vida de aprendizado em instituições religiosas me levaram a trilhar o caminho da verdade, do autoesforço que aguarda recompensa, de temer o mal e aquilo que prejudique o outro. Existem outros caminhos que levam ao mesmo destino, claro, mas este foi o que conheci.
A despeito de tudo que vemos, hoje, na mídia, existem facetas iluminadas do catolicismo, tantas que amarga saber que recentemente só se divulgue aquela do mal, da exploração sexual criminosa de crianças, da corrupção por debaixo da batina.
Guardo comigo recordações várias de professores religiosos que estimulavam a vida em comunidade, a atividade pastoral e a ajuda ao próximo. E, como não lembrar, de outros nem tão próximos da liturgia, mas que nos encorajavam a ser felizes, a ter uma vida peregrina e a viajar o mundo e, de uma, em especial, que em uma aula de religião confidenciou as meninas como reconhecer a sensação do orgasmo.  Isso entre paredes de um colégio de padres, altamente tradicional, no qual as alunas eram proibidas de usar vestes acima do limite do joelho, sendo que a rebelde aqui que vos fala chegou a ser mandada de volta para casa por um centímetro a mais de um recatado, porém nada sacro vestido floral.
Particularmente acredito que a fé seja um anteparo para as vicissitudes da vida, o pão e o vinho que nos conforta e, como eles gostam de dizer, que regozija nosso árduo caminho. Parece ter mais sentido para mim um mundo que tenha uma figura paterna soberana, porque toda forma de vida por nós conhecida nasce verdadeiramente de um outro ser, de um pai.
São esses os valores que pretendo passar adiante, junto com meu DNA, para meus filhos, por isso espero, sinceramente, que o novo Santo Papa aponte, de forma infalível, os caminhos para este rebanho de fiéis empoeirado , ávidos por uma transformação.

terça-feira, 5 de março de 2013

Pare. Pense. E Siga seu Coração

Sinal dos tempos. Na era da informação rápida, do acesso de internet banda larga, do transporte a jato, desaprendemos a esperar. Praticamos a impaciência diariamente, e este treino constante tem feito façanhas: somos ainda mais selvagens do que éramos originalmente, e momentos prosaicos como filas de banco, de supermercado ou de carros aguardando o sinal abrir têm se transformado em arenas públicas para todo tipo de selvageria.
Só quero tempo, não quero mais nada, dizem, sempre correndo, os membros desta manada. A versão homo sapiens pós moderna. “Gosto da vida na versão fast food, dispenso couvert e sobremesa. E por falar nisso, garçom, traz logo a conta?”
Se tudo é tão mais rápido, se a vida deve ser atravessada nesta pressa, para onde vai o tempo que sobra? E o que fazemos com ele?
Não se anime. Poucos sabem tirar proveito deste presente, poucos são os que sabem usar com sabedoria este “extratime” cupom. A maioria se intoxica com mais doses cavalares de ócio na internet, de tempo vazio, sem uso em próprio benefício. E nem estou aqui a falar do exercício da contemplação, do ócio produtivo, que é olhar para si mesmo, refletir, meditar, o dolce far niente tão bem vindo, e que é a força motriz da imaginação, da criatividade, do autoconhecimento, da tão aclamada paz interior.
O tempo que resta é um tempo perdido com consumismo exagerado, com amizades virtualizadas, com preocupações inúteis, com fofoca e preocupação com a vida alheia. Ou seja, desperdício de tempo. O tempo, nunca antes tão precioso, e tão mediocremente banalizado.
Até que um dia, quando nos damos conta do quanto já perdemos, e do que falta de vida para esvaziar de vez nossa ampuleta, acordamos sobressaltados, sensíveis que somos a fragilidade de nossa existência.
Prepare-se, esse dia chega, cedo ou tarde, e para todos, aí vemos o quão inútil é discutir por aquilo que não sabemos aproveitar, e quanto estamos desgraçadamente despreparados para seguir nesta marcha de tempo que se chama vida.
Meu dia chegou. Não pretendo mais duelar comigo mesma, tampouco amamentar ilusões ou devaneios ao invés de viver, simplesmente, para o que realmente vale a pena. Decidi tatuar na minha alma o sentido dos meus dias. Sim, é uma escolha, e é para todo o sempre. 
Desejo fortemente que chegue logo o seu dia e que te libertes de todo o vazio. Amém.