segunda-feira, 30 de abril de 2012

Desapegue-se!

Não sou do tipo. Daquele tipo maníaca por arrumação. Blusas distribuídas por cores, no estilo degradê. Sapatos enfileirados em ordem, mantimentos agrupados milimetricamente. Gosto de ordem, mas prefiro progresso, e às vezes, para seguir em frente, é preciso deixar um pouquinho de lado o excesso de método e priorizar o que realmente interessa. O conteúdo no lugar da forma. Praticar o desapego, em bom português.
Outro dia estava vivendo uma situação de emergência, precisava sair de casa com rapidez, e me vi escrava de um ritual simples e inútil, que costumo fazer sempre que acordo: aquela ordem cíclica e invariável em que acordamos, escovamos os dentes, tomamos banho, nos vestimos e por aí vai. Estava com pressa, poderia ter queimado algumas etapas do processo que não faria diferença alguma, eu simplesmente ganharia dez minutos se deixasse de me ensaboar duas vezes, a primeira de baixo para cima e a segunda de cima para baixo. Como eu não estava vindo de uma temporada em alguma área distante do planeta com escassez de recursos hídricos ou em guerra civil com racionamento de água, o meu banho não exigiria esforços hercúleos de limpeza, e bastaria uma simples chuveirada para que eu estivesse pronta para outra guerra: aquela diária, para ganhar o pão. Mas, que nada, meu inconsciente simplesmente não me deixou perceber a inutilidade de tudo aquilo. E lá fui eu tal como uma soldada enviada numa missão secreta: não podia falhar!
Será que preciso me tratar? Que sou mais uma vítima do TOC, o mal do século? É mais fácil pensar assim, terceirizar a culpa, mas vejo que quem precisa de um toque somos todos nós que nos conformamos com a zona de conforto do que nos é familiar. Mudar, para quê? Como se mudança fosse algo negativo, sujo, vergonhoso. Quando a mudança que é sinal de coragem, de crescimento, de ousadia.
É um exemplo simples, o que dei acima, mas que demonstra claramente o quanto nos escondemos naquilo que conhecemos com medo do novo, ainda que estejamos numa posição que quase nos empurra em outra direção. Veja: eu estava atrasada, com pressa, mas fiquei angustiada apenas em enfrentar a possibilidade de desobedecer a sequência com a qual me acostumei. Imagine isso em perspectiva macro? Assustador, não? Também acho. Tratemos, então, com igual urgência, de nos desacostumar, de nos desmistificar, de nos modificar. Mudar o caminho, os hábitos, os rituais, os rumos. Ficar igual para sempre é morrer um pouco a cada dia, e o grande barato nesta vida é nos reinventar, senão, tem jeito, não, a onda te leva e você nem percebe que ficou para trás.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Palavras Cruzadas

    Se penso, tento, se tento, falo, se falo, vento
Se vivo, quero, se quero, luto, se luto, venço
Se amo, penso, se penso, calo, se calo, tempo

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mães em Fúria

Faço parte de um grupo de discussão virtual formado por mães jovens, em sua maioria, mães de primeira viagem, como eu. O grupo é de discussão mesmo, não só metaforicamente. Tudo vira polêmica, desde a opção de parto normal x cesariana até filhos que dormem sozinhos ou com os pais, passando por uma infinidade de outros assuntos do mesmo relevo “mulherzinha”.
Não era novidade para mim que as mulheres gostam - e como gostam- de um bate boca, e que ficam com a boiada alimentando no pasto esperando só o sinal verde para entrar numa briga (ou seria para não sair dela?), mas mesmo assim me pego impressionada com a capacidade que nós temos de precisar convencer o outro de nossas verdades quando, aparentemente, estamos precisando é convencer a nós mesmas.
Eu já estive no ringue algumas vezes, bati, apanhei, mas no final, surpresa!, ninguém vence, acabam todas empatadas. Sim, porque não há como empacotar uma realidade que funciona para você e vender para os outros, ou sentir-se mais valorizada porque o seu modelo familiar é aquele indicado pelos especialistas. Na sua vida, baby, a especialista é você.  E viver de comparações é viver infeliz, porque sempre haverá aquela que engordou menos de 10 quilos na gravidez (sim, isso existe!), ou que perdeu 10 quilos em um mês depois do parto, ou que consegue educar três filhos trabalhando doze horas por dia. Há exemplos para todos os gostos e tamanhos, mas, como tudo nesta vida, nem todos se adaptam a nós.
O que percebo é que aquelas que ainda estão inseguras de suas escolhas pessoais são as que vestem a armadura e empunham a espada para suas adversárias com mais agressividade. A luta é contra elas mesmas, mas elas ainda não se deram conta disso. A verborragia é usada como um meio de autoconvencimento. Se funciona? Vai saber.
Há mulheres que ainda hoje vivem bem na função de mãe em tempo integral e outras, como eu, que precisam do seu ofício como do ar que respiram, e que são mães mais felizes porque são profissionais realizadas. A qualidade do tempo ao lado dos filhos nada tem a ver com a quantidade repetem as terapeutas de família. Em outras palavras: pelo tempo que der, esteja inteira e feliz, senão é um corpo presente com alma ausente, ou seja, não vale nada.
Toda discussão passional com terceiros sobre como se deve criar nossos pintinhos é uma perda de tempo danada, cada mãe é una e suas escolhas levam em consideração o universo que gravita em volta dela. Babá ou creche, dormir junto ou separado, parto normal ou cesária, filho único ou dois filhos, mães que trabalham ou mães full time, escolha o tema que quiser. Qualquer deles só merece uma escolha: aquela que você e o pai do seu filho fizerem como a mais adequada .
Mas eu sigo insistindo em assistir o vale-tudo que tem se tornado esse grupo mesmo sabendo que farpas podem acabar me atingindo de raspão. É que, sabe como é, mulher adora assistir a uma confusão de camarote. Perda de tempo, eu sei, mas diversão garantida...

terça-feira, 17 de abril de 2012

Quem vai me salvar de mim mesma?

A quem destino meus enigmas?
Despeje-os na folha em branco, ouço de um lado, exorcize-os, me sopram de outro. Dois caminhos sempre apontam e não posso me dividir. Preciso decidir. A cada instante, por longos segundos, a todo momento.
Persigo o equilíbrio, mas a corda é bamba e sempre pende para uma direção. Se estou no comando, saboreio a vitória, mas logo a tentação se aproxima e caio de novo. As vezes um mero deslize, outras um tombo e fratura.
Não sei se estou salva ou se estou perdida, ou, quiçá, ambas as coisas.
Quando reúno forças e sigo em frente, poucos metros depois a dúvida me alcança novamente. Estava certa, agora, não mais. E como faz?
Se na certeza tenho receio e na dúvida tenho medo? Não tem segredo, a estrada é longa e o caminho árido e solitário. Não há como nos libertarmos neste vôo cego.
A bifurcação nos acena no horizonte, e vem se aproximando. Demovê-la ou enfrentá-la? Decida. E sem levar peso extra. Largue sua mochila de dúvidas. E dobre em direção ao seu destino. Pronto. Não olhe mais para trás.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Geração Barbie

Já reparou a sua volta? A modernidade deixa tudo igual. Eu, você, todas nós. Vestimos as mesmas roupas, suspiramos pelas mesmas grifes. Os sapatos da moda, os vestidos de Hollywood. O padrão de beleza universal da magra com curvas, a pele alva sem rugas, o cabelo liso levemente ondulado. Todas querem ser Gisele. As que não têm peito, compram alguns mililitros, as que têm muito, vendem alguns litros. Todas na fila da aula de spinning com suas bolsas francesas de duas siglas guardadas no locker da academia. Um exército de Flávias, Luisas, Fernandas, cinderelas que aspiram uma carreira bem sucedida, um casamento cinematográfico, o apartamento mobiliado pelo arquiteto da moda, o casal de filhos de capa de revista.
Quando juntas, se confudem, se misturam, tropeçam sobre as palavras. Todas sob a mesma voz. O criador se fundiu com a criatura? A geração das mulheres-Barbies, cinturinha pilão, roupas deslumbrantes, cabelão platinado, invejando os acessórios das amigas: salão de beleza, carro conversível, restaurante cinco estrelas, viagem para Paris.
Se autenticidade é artigo fora de catálogo, fato é que essa geração produz mulheres pré-fabricadas, em série, que não se contém em profanar as hereges que não foram aprovadas pelo controle de qualidade selado na maioria. Oremos por elas, coitadas, que desistiram de viver alisando o cabelo ou de morrerem de fome para caber no opressor manequim 38.
Felizes são as outras, isso sim!
A história se repete, e o que se vê é nova roupagem para o velho e perene desafio de lidar com as diferenças, de superar a dificuldade do respeito sem o julgamento a reboque. Vamos nos despir da beca e do martelo, meninas, ficaremos muito mais leves, tenho certeza. Precisamos urgente desta dieta  até para nos libertarmos das algozes que fomos de nós mesmas. Experimente mais essa: trocar de lugar com o outro! Nem água e alface emagrecem tanto a alma, é exercício tão recomendado como caminhar todas as manhãs.
Tarefa espinhosa essa que propus, einh? Reconheço, e ainda exige cuidado constante, atenção redobrada para não perdermos o hábito. Mas, pelos poderes de Greiscow!, faça o esforço. Eu estou na lida, é minha utopia de mulher pos-moderna analisada, e um dia chego lá.
Sorte mesmo tinha Leila Diniz. Fazia o que lhe dava na veneta e virou cult.


Cinco minutos

Não quero jóias, nem preciso de mais sapatos. Não me venha com presentes de fim de semana. O que quero não tem para vender. É luxo para poucos.
Preciso de tempo, mesmo que em doses homeopáticas, aprisionadas em frasquinhos de poucas gramas. Dê-me mais cinco minutos e serei feliz que nem criança.
Cinco minutos não é muito, mas serve, atende o que desejo. Cinco minutos para prolongar meu sono, para aninhar minha filha nos meus braços e embalá-la. Cinco minutos para abraçar longamente meu marido e repousar em silêncio no seu ombro. Cinco minutos para que eu deixe a pressa em casa e saia sozinha, livre, sem sua sombra sempre ao meu lado me perseguindo. Cinco minutos para poder apreciar a música que está tocando no rádio, sem cometer a heresia cotidiana de interrompê-la, logo ela que reacende lembranças tão doces. O tempo de saborear o gostinho do café na boca depois do almoço e o finzinho do bate papo com a amiga que não vejo há meses. Os contados minutos que desperdiçamos em filas, no trânsito, na espera burocrática e hodierna do tempo perdido que leva a lugar nenhum.
300 segundos. Tempo suficiente para ir até meus pensamentos e voltar à realidade. É isso que lhe peço: um gole de tempo, uma lufada de ar. Em outras palavras, dar um tempo do mundo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Férias de Mim

Preciso de uma indicação. De alguém que responda por mim. Por poucas horas. Vou ali e já volto.Quem pode ficar no meu lugar?    
A pessoa precisa ter poucas habilidades. Precisa ter paciência, para atender os clientes, e para lidar com os mais carentes. Precisa gostar de criança, mas não de qualquer criança. Daquela que faz birra quando é contrariada, que morde quando está com raiva, que não come nos finais de semana, que foge para a cama dos pais na madrugada, que arranha os seus cds preferidos e rabisca com esferográfica seu sofá de couro, que tu parcelaste por metade de sua vida profissional. O básico, sabe, nada demais.
Ah, e ainda tem que dá uma forcinha, vez ou outra, para os problemas jurídicos familiares, da irmã da tia da sua prima, que, pobre dela, precisa entrar com uma ação de danos morais até sexta feira porque sentiu-se estupidamente ofendida quando foi ao supermercado de bairro e eles não lhe garantiram sua prioridade absoluta, e deixaram passar na sua frente, logo ela, cidadã idosa!, um rapaz raquítico e mal educado que ainda lhe mandou um comentário debochado. E ainda por cima na frente de todo mundo, veja só!
E tem mais. A candidata também precisa encontrar o bombeiro que sumiu no mundo sem consertar o vazamento que insiste em pingar no banheiro da cozinha. E responder a uma média de uns 30 emails por dia, enquanto agenda uma consulta médica por telefone e organiza a pilha de documentos que enfeita a sua mesa de trabalho. Ah, e fui boazinha, viu, só deixei quatro prazos fatais para concluir até minha volta, coisa rápida, nada demais, você tira de letra, esperta que é.
Bem, acho que não esqueci de nada. Mas em caso de uma lembrança repentina, posso ligar no seu celular?
E aí, alguma interessada?