quarta-feira, 20 de junho de 2012

Do que eu não entendo

Foge a minha compreensão: café descafeínado, cerveja sem álcool, chocolate diet. Se não gosta de cafeína, tente adrenalina, desista do café. Não gosta de pilequinho? Nada de cerveja, refrigerante para você. E essas invencionices de casamento aberto, de ginástica passiva, de crédito sem dinheiro? Não entendo! Não quer engordar? Faça jejum, corra a meia maratona, nade até doer os braços, mas não me venha com mentiras dietéticas para enganar seu ego ou essa de ficar deitada para alguém suar por você. Não gosta de se prender? Então viva de forma livre, e leve junto as conseqüências, matrimônio não serve para o seu número, desista das alianças! Vive fugindo dos cobradores? Muito simples: pare de se endividar!
Mas você não ouve, não quer saber, prefere enfiar o capuz da ilusão, daquilo que você gostaria de ser, mas não tem coragem de tentar. Não sei quem lhe ensinou a ser assim, a vida não lhe trata deste jeito, ela não tem meio termo, meias palavras, meias verdades.  E quando ela resolve lhe dar uma rasteira, você aciona o comando da autopiedade. E deprime.
Não entendo quem quer vida pronta, pré-embalada a vácuo, e sem desperdício. Quem procura um grande amor sem se arriscar, ou quer viver sem se arrepender. Quem não quer tentar, ou vive acomodado com medo de errar. Tem jeito não, é aquela velha máxima de não se fazer omelete sem quebrar os ovos. E ainda tem que ter frigideira, sal a gosto e manteiga. E lavar a louça depois. Desculpe desapontá-lo, amigo, mas não existe almoço grátis nesta vida.
Pense nisso antes de reclamar de tudo ou de invejar o outro. Antes de dizer que nada dá certo, que você não tem oportunidade, que é um pobre coitado. Pare de se enganar, tome decisões e trabalhe por elas, dias, noites, semanas. Levarás alguns nãos, cobiçarás a sorte alheia, temerás o inesperado, terás dias difíceis e noites insones, sofrerás e pensarás em desistir. Mas seu dia chegará. E aí todo o esforço terá um sentido.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Do que eu sei do matrimônio

Dizem que é instituição falida, eu digo que está em franca recuperação. Dizem que desgasta a relação, eu digo que une o casal. Dizem que é o fim da vida, eu diria que é o recomeço. Mas precisa regar a plantinha. Tem que ter amor.
Casamento não é para iniciantes, é para quem já conhece um pouco de si, do outro, e da vida. Não serve como estopim para sair de casa, nem como grito de liberdade. Mas tem suas serventias.
Casamento é bom para quem sabe dividir, e para quem gosta de conversar, e de ouvir. É curso completo de paciência, e um ensaio sempre inacabado do que poderia ser e não foi. É vinho argentino em plena quarta-feira, e um roteiro delicioso de pequenas rotinas. Casamento é ouvir a tevê cospir tiros ou gritos de gol nas tardes de domingo e filmes românticos nas noites de sábado. É não se constranger em partilhar silêncios nem se impressionar com inesperados sorrisos. É brigar por palavras mal entendidas e por outras que nunca foram ditas. É sofrer por dar sem receber ou por receber aquilo que não se quer dar. Casamento é uma tentativa autodidata de aprendizado do idioma do outro. Mas pode ser também puro medo da solidão. É visitar lugares que você nunca iria se fosse outro o seu estado civil. É assinar junto tudo que for importante, e separado os bilhetinhos de amor. É mistura de doce com salgado, azedo com amargo sem dar indigestão. Casamento é cuidar do outro como se cuida de si mesmo.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O ET

Prazer, sou um ET, vim de outro planeta, de uma galáxia muito, muito distante. Não tenho super poderes, não sei voar, não leio mentes, mas você vai ver, sou diferente, muito diferente.
Dou bom dia diariamente às pessoas que vejo, com um sorriso no rosto. Espero minha vez de falar, não interrompo os outros. Se recebo o troco a maior na saída do restaurante, não me aproveito da distração de quem me paga, aviso sem hesitar e devolvo o que não me pertence. Respeito sinal amarelo, e não buzino assim que ele vira para o verde. Tenho poderes mágicos: sei esperar minha vez sem reclamar. Não invento que sou estudante para conseguir desconto no cinema, nem mesmo no show da Madonna, a minha diva loira. Contenho-me quando me xingam no trânsito ou quando os apressadinhos da vez passam na minha frente na bilheteria do shopping. Sou cavalheiro, abro a porta do carro para as mulheres, e carrego suas sacolas no metrô. E, sim, pasmem, mas eu aperto o botão vermelho da alfândega quando trago mais de quinhentos dólares em compras do exterior.  
Eu existo, acredite. Mas sou ET de espécie rara, em extinção. Poucos iguais a mim ainda sobrevivem espalhados pelo planeta. Peço, por favor, ajudem a preservar minha raça, cultivem minha espécie! Não nos deixe morrer!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Carta para a mulher moderna

Descobri, ou melhor, fui descoberta, num longínquo aniversário, por um presente incrível que recentemente reabri para meu deleite: um livro hilário e delicioso da Clarice Lispector em que foram reunidas todas as dicas escritas por ela, por um pseudônimo, no Jornal “Correio da Manhã” na década de 60. Dicas aparentemente fúteis, mas de uma importância ímpar. Lembram, à mulher feminista, pós-moderna, centralizadora de tantas tarefas, do quanto ela está se afastando da sua essência, e daquilo que os homens mais buscam nelas: a feminilidade. Tema atual, não? Não por acaso, resolvi voltar a ele e bebendo das palavras de Clarice sugerir, humildemente, uma provocação. Chama-se “carta para a mulher moderna”.

Mulher, presta atenção! Você presta contas para tanta gente, e para sua auto estima? Você tem ligado para ela? Tem chamado-a para um vinho no final do expediente, dado um agradinho no final de semana? Ou manda a pobre as favas, ela que só quer um pouco de carinho e atenção? Não admito, trate de se cuidar! Chega de andar pela casa com aquela camiseta esfolada e russa de quando você tinha 15 anos, o que o seu marido vai achar disso? Que tem coisa mais interessante por aí, certamente...Pare de pensar só na manicure e na tinta do cabelo, isso é elementar. Use seu charme, use maquiagem, use suas armas. Compre uma lingerie nova, insinuante e que não seja cor de pele, por favor. Disfarce as celulites num vestido que lhe caia bem, e não que aperte até sua alma. Invista num vestidinho preto de qualidade, e em um bom corretivo, que lhe salvam de qualquer cilada. Não pense que ser atraente é tascar qualquer cobre pele de tecido sintético na versão periguete sênior animal print. Menos! A malha e o algodão são mais recomendados, são esvoaçantes, e não deixam cheiro em caso de um suorzinho inesperado. Cuide do seu sorriso, dos seus dentes, não gaste todo seu dinheiro com escova progressiva e tintura amarelo ovo, aliás, fuja de coloração que não combine com seu tom de pele. Fale baixo, seja suave, e sorria ao invés de gargalhar sonoramente por qualquer coisa. Reclame menos, e coma menos também, mas não economize na cortesia, educação é o melhor de todos os charmes. Enfim, cuide-se para você mesma, antes de cuidar-se para os outros. E não me venha com aquele papo xarope de diminuir a idade. Agora vá, e não perca mais sua auto-estima de vista.