Tenho ressaca da
vida de vez em quando, sabe ressaca, gosto amargo na boca, vontade de colocar
tudo para fora, ânsia, cansaço, vontade de nada.
Normalmente é
efeito colateral dos excessos que cometemos diariamente: excesso de gente, de
energia, de trabalho, de palavras. E então eu me recolho, quieta e
contemplativa, esperando que tudo volte ao normal, que o rio deságüe no mar,
que o cravo reencontre a rosa, que o mundo volte a girar. Talvez seja
esta nossa inesgotável capacidade humana de acreditar, talvez seja, apenas, o
final de um ciclo, ou a vontade soberana do criador. Mas este dia sempre acaba
chegando, e eu me animo: mais um pilequinho, nova ressaca, e no final tudo
volta ao normal novamente.
Mas sabe, ando
mais seletiva, ultimamente. E esses porres de vida andam sendo mais esporádicos,
embora mais prolongados. A resistência do organismo vai endurecendo, e mais e
mais vezes ele reclama. Preciso obedecê-lo, dispensar quem me deixa enauseada, quem
fala sem dizer nada, quem cansa meus ouvidos e me faz revirar os olhos, quem me
dá uma surra de futilidade. Com esses, chega, não divido mais a mesa e não
brindo mais nem com champagne. Desta
gente, juro, e ajoelho depois, não beberei jamais.
Quero novas fontes de vida,
eu vou é procurar companhia em outros bares, com quem saiba dividir mais do que
papo de bêbado, e que me acompanhe por outros caminhos. Com ou sem álcool, sem ou
com gelo, mas que tenha coragem e seja autêntico.
Tenho ressaca é de gente
falsificada.
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