quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Gente Grande

Acordei com uma presença ilustre em minha vida. Sei que esteve presente ao meu lado durante os últimos 34 anos. Dias bons, outros ruins, em nenhum deles me abandonou. Vez ou outra acordava eriçado, em outros, comportado, me enchendo de orgulho. Mas no meio de tantos outros, passava despercebido. Hoje, especialmente hoje, se destacou no meio da multidão. Um fio, minúsculo e tímido, quase escondido entre os demais, mas eu o vi, e ele estava lá, me encarando pálido, coitado, assustado. Era um fio de cabelo branco! “Só isso?” Você pergunta. “Ora, era de se esperar, no meio dos trinta, filha na escola, dez anos de formada.” Eu sei, eu sei, mas tomei um choque, um susto danado, reconheço. Chegaste tão cedo, nem me preparei direito para este dia. Ai meu Deus, já?
Se não foi outro dia que estava no colegial, estudando madrugadas a dentro para passar na faculdade de direito. Outro dia que conheci meu marido numa quinta-feira, festa do dia dos namorados numa boate da moda que já não existe mais há dez anos! Boate? Ui! Há dez anos?Aff! Envelheci mesmo... “Lembro como se fosse hoje”, “quando eu era criança”, “na minha época”- festival de expressões vintage que já andam sapateando nos meus lábios recentemente. É, o diagnóstico se confirma: sou gente grande, sem sombra de dúvidas.
Ainda estou nova, bem sei, hoje podemos viver bem e com saúde até noventa anos ou mais. Mas a sensação de que se já cresceu, que o tempo não volta mais, e que uma parte da sua vida faz parte da sua memória é algo perturbador, e que nos faz refletir sobre aonde se quer chegar. E ainda falta um bocado de caminho, que alívio! Meus planos vão se renovando, mas a vontade de fazer as coisas acontecerem continua a mesma. Ainda me reconheço, sou a mesma menina devoradora de livros e de sorvetes, que adora dançar, que escreve e fala compulsivamente. Sou eu, eu mesma, aquela da foto, à direita da professora, mas, graças, sem aquele cabelo pavoroso de vinte anos atrás. O meu sorriso continua o mesmo, pode conferir. Um pouco mais amarelado, com umas ruguinhas ao redor da boca, mas igualzinho.
Ao invés de olhar para trás, olho para baixo e me vejo ali, naquela criaturinha faladeira, agitada e comilona de dois anos de idade, meu pedacinho de mim, a continuação da estória que não para por aqui. Então o fio branco, solitário, desaparece, e se torna apenas um registro burocrático do tempo, totalmente inofensivo. Hei, Paul, ainda faltam 30 anos para eu fazer 64, para eu perder os fios que hoje só mudaram de cor. Somos jovens, e ainda temos todo o tempo do mundo, afinal.

 

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