segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os Outros

A vida muda a gente, é fato. Eu já amarguei o gosto de fel da inveja de uma barriguinha sarada lá nos meus longínquos 20 anos, de uma conta bancária polpuda que me permita viajar all around the globe ou até de um filho que durma a noite toda. (devo confessar: esses dois últimos: eu AINDA invejo fervorosamente).
Mas surgiu uma nova erva daninha dentro de mim depois dos 30: a inveja daquelas pessoas leves, que não se estressam com nada e que vivem absortas nos seus infinitos particulares. Aquelas que não se incomodam com um inimigo permanente, sempre a espreita para dar o bote: OS OUTROS.
Certamente quem é do tipo estressadinha como eu já reparou que a fonte do estresse reside, sempre, nos outros. E são inúmeros exemplos, que se reproduzem diariamente, como coelhos no cio: o seu dileto vizinho que alcança o elevador com uma distância de 1 minuto a sua frente e rapidamente entra, distraído, fingindo que não te vê; a idosa tagarela que senta ao seu lado no metrô quando você está na sua versão 5.0 do seu mau humor matinal e conta, sem intervalo, os últimos 50 anos de sua vida, o motorista apressadinho que corta você no trânsito incorporando o Schumacher para ficar parado no sinal a poucos metros a frente, e bem do seu lado...
Eu sei que eu mesma devo ter sido, algumas vezes, a vizinha distraída ou, pior, a passageira distraída que finge não perceber as dezenas de seniores e gestantes a sua volta (sim, já fiz isso, mas já fui vítima também), mas isso é papo para outro dia. Afinal: eu também incomodo! Mas como viver sem se incomodar com os outros? Sendo uma alma superior, sublime, devotada a Nossa Senhora dos que não se incomodam! Haja inveja! Porque isso eu não consigo evoluir nem nas próximas 20 encarnações...

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