sexta-feira, 16 de março de 2012

Admirável Mundo Novo

Outro dia assisti a uma entrevista de um americano famoso, mas desconhecido para mim, que me fez chorar e rir ao mesmo tempo. Ele dizia que o mundo é maravilhoso, mas as pessoas nunca estão felizes. Tive que concordar. Ele lembrou que fazia parte de uma geração em que os discos de telefone eram um desafio diário para a paciência. Quem tivesse mais de um zero no número era praticamente um lobo solitário porque para se acionar o zero era preciso virar o disco todo do telefone e isso dava um trabalhão danado. Era mais fácil esperar que o destino nos fizesse cruzar com aquela pessoa do que ligar para ela. Pensando aqui com meus botões: devia se gastar parte do dedo indicador ao longo da vida nesta tarefa.
Exageros a parte, hoje temos internet rápida, sem fio, telefones móveis que funcionam quase em qualquer lugar, e as pessoas ainda estão insatisfeitas. “De que adianta ter celular se não atende” ou “que droga, meu sinal não pega no metrô”. Quantas vezes eu mesma me peguei pensando assim! Mas vem cá, me diz, que raio de urgência é essa que não espera os poucos minutos que se gasta em atravessar quilômetros num trem subterrâneo de alta velocidade?
Uma outra cena comum, que você já deve ter presenciado, certamente. Pessoas incomodadas em deixar descansados seus aparelhos portáteis dentro das bolsas durante sessões de cinema, ou mesmo durante pousos de vôos. Mal se pisa o solo, e mesmo contrariando as recomendações técnicas, os passageiros não se agüentam e precisam verificar mensagens, checar emails, espiar a vida alheia nas redes sociais. Nos cinemas, que sempre foram refúgios de nós mesmos, o nosso eu virtual insiste em invadir o sagrado escurinho que agora reluz com os aparelhinhos indóceis de seus donos impacientes. E lá vamos nós de novo, afoitos por afagar nossos bichinhos de estimação, escravos desta tecnologia que acabou por nos subjugar totalmente.
Para aqueles que, como eu, viveram, mesmo que na tenra infância, a outra era, a era da vida real, ainda surpreende como fomos flechados pelos supérfluos tecnológicos. Aonde foi que nos perdemos, afinal. E qual é o sentido de tudo isso? Ganhar tempo? Ter ferramentas que facilitam nossa vida, nos aproximar de quem amamos? Ops, alguma coisa deu errada. “Houston, we have a problem”. Continuamos correndo, sem tempo, distantes, exaustos. O jeito é dar um boot e começar tudo de novo.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente! Pra quê tanta pressa assim? Só pra ter mais tempo fuçando a vida dos outros ao invés de aproveitar cada segundo da nossa...

    bjs

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