terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O que que eu faço com isso?

Você acorda com TPM. Faz um saque no caixa eletrônico e se vê no cheque especial. Segue para o trabalho. Primeira ligação do dia: o cliente foi grosseiro. Você engole o sapo a seco, sem nem um copo d´ água para ajudar. Chega em casa: sua filha está com uma virose e você passa a noite insone cuidando dela. Dia difícil, einh? Sua irritabilidade atinge a zona vermelha, disparando o alerta total: mantenha distância segura, não se aproxime. Cadê o seu passaporte para poder sumir no mundo?
Aí, inevitável, você cai aos prantos quando sua unha quebra e sua colega de sala começa a ladainha: fique tranqüila, não se aborreça com tão pouco, você anda muito estressada, tudo vai melhorar. Você agradece o carinho e as doces palavras, mas a raiva do mundo permanece. E o que você faz com isso?
Você está triste, sem rumo, querendo um colinho de mãe, mas a pilha de louça precisa ser lavada, e a pilha de trabalho na sua mesa precisa diminuir. A atendente de telemarketing liga para lhe oferecer uma promoção e você quer que ela vá para o espaço ao invés de tomar seu tão escasso tempo. Coitada da moça, estava só trabalhando, diz seu marido. Que se dane, quem mandou atravessar meu caminho logo hoje? Você respira fundo, tenta superar, sabe que está errada. As palavras de autoajuda não te consolam mais.  Que tal um rivotril? A angústia ainda não passou. E o que você faz com isso?
Tem dias que nada mesmo dá certo, e sua vontade é que um cataclisma se abata sobre a face da terra e remova todos os chatos, os grosseiros, os mal educados do mundo. Que sobrevivam somente seus amigos, seus ídolos, seus queridos. E nestes dias sempre aparece um leitor de autoajuda que lhe dá conselhos, lhe entope de frases feitas quando o que você mais precisa é de paz e silêncio. E de solidão.
Deixem-nos viver nossos dias de ira, de tristeza, de medo. Paremos de tentar analisar os outros o tempo inteiro, oferecendo ajuda, soluções, opiniões. Vamos viver nossas entressafras emocionais sem culpa, sem precisar justificar em duas laudas e com firma reconhecida a razão do que sentimos. Sentimos porque somos seres pensantes, sensíveis, sociáveis, ora bolas! E não porque estamos, necessariamente, com problemas. Mas só é possível separar um dia ruim de um problema grave se a dosimetria da dor puder ser medida sem lente de aumento. Moral da história: Fique atenta aos seus sentimentos, garota, e dispense, sem cerimônia, os intrometidos de plantão que andam se passando por psicólogo. E se precisar de uma forcinha, me liga, tá?

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