quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Réveillon

Todo ano saio em busca da reconstrução pessoal, de invadir os escombros da alma atrás de pedaços intactos de mim. Visto-os com dignidade, minha farda e meu escudo. E me despeço dos destroços, objetos inanimados que pesam sobre os ombros e que não me protegem mais, nem de mim mesma.
Calço minhas botas, apanho minha bagagem, e finjo sorrir. Preciso mostrar ânimo para os dias que virão. Quero acreditar que serão diferentes, que, como diz a música, tudo mudou.
A passos largos, observo o que deixei para trás, e num misto de alegria e solidão, vejo que estou sozinha, eu, minha farda, e minha trouxa de passado. Parece mais leve que a do ano passado, mas ao empunhá-la nas costas, vejo que ainda há resquícios daquela que nem existe mais. Paro novamente e abro sem hesitação: retiro tralhas e tralhas, jogo ao chão mais pedaços de mim que não uso mais, tantos que uma nova versão me encara no piso frio com um ar desolado. Não recuo. Sigo em frente e deixo-a esquecida atrás de mim. Agora sim, estou mais leve.
Tomo coragem e saio correndo, em frente, sem medo, e mergulho no ano que me espera. Cheia de sonhos, e um tanto otimista. Sibilo uma promessa de ano novo: sem trouxa nas costas no ano que vem.

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