Todo ano saio em
busca da reconstrução pessoal, de invadir os escombros da alma atrás de pedaços
intactos de mim. Visto-os com dignidade, minha farda e meu escudo. E me despeço
dos destroços, objetos inanimados que pesam sobre os ombros e que não me
protegem mais, nem de mim mesma.
Calço minhas
botas, apanho minha bagagem, e finjo sorrir. Preciso mostrar ânimo para os dias
que virão. Quero acreditar que serão diferentes, que, como diz a música, tudo
mudou.
A passos largos,
observo o que deixei para trás, e num misto de alegria e solidão, vejo que
estou sozinha, eu, minha farda, e minha trouxa de passado. Parece mais leve que
a do ano passado, mas ao empunhá-la nas costas, vejo que ainda há resquícios
daquela que nem existe mais. Paro novamente e abro sem hesitação: retiro
tralhas e tralhas, jogo ao chão mais pedaços de mim que não uso mais, tantos
que uma nova versão me encara no piso frio com um ar desolado. Não recuo. Sigo
em frente e deixo-a esquecida atrás de mim. Agora sim, estou mais leve.
Tomo
coragem e saio correndo, em frente, sem medo, e mergulho no ano que me espera. Cheia
de sonhos, e um tanto otimista. Sibilo uma promessa de ano novo: sem trouxa nas
costas no ano que vem.
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