Foi Carlinhos
quem me abriu os olhos para a realidade. Carlos Drummond de Andrade, conhece? Em
um famoso poema chamado “casa arrumada” ele diz que a casa da gente não é
vitrine para estar sempre impecavelmente arrumada, que casa que tem amigos tem
marca de copo na mesa, e arranhão no chão. E tem mesmo. Se for casa com criança
pequena, então, aí tem parede riscada, brinquedo em cada canto, sofá manchado...E
que seja de lápis de cera, ao invés de cigarro, penso eu.
Não é só a casa
da gente que tem que ter vida, ser pulsante, carregar marcas. Todos nós temos
as nossas cicatrizes, que andam rigorosamente escondidas, mas, depois do salvo
conduto de Carlinhos, podem e devem ser alforriadas, são elas que nos dão charme
e nos fazem ser quem somos. Precisamos, nós também, carregar nossa história na
pele.
Eu já achava
estranho, e agora me veio a certeza, mulheres que mais parecem que saíram de capas
de revistas ou das passarelas não são reais, são mulheres vitrines, sem uma única
sardinha de sol no nariz para contar história de algum verão inesquecível, ou uma
ruguinha, que traz um charme experiente aos olhos ainda brilhantes de menina. Uma
gordurinha aqui e acolá, que não comprometem o visual não deixam dúvida: essa aí
gosta de reunir quem ama ao redor de uma boa mesa. Se os dentes já não são mais
brancos como antigamente, não dá para enganar: essa outra adora um vinho e de preferência
na companhia dos amigos. Se reclama muito da coluna, é batata: tem filho pequeno,
que ela ainda carrega no colo...
Mulher de
verdade é assim, veste seus defeitos como se fossem predicados. Drummond certamente
concordaria comigo...
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