quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sinais Vitais


Foi Carlinhos quem me abriu os olhos para a realidade. Carlos Drummond de Andrade, conhece? Em um famoso poema chamado “casa arrumada” ele diz que a casa da gente não é vitrine para estar sempre impecavelmente arrumada, que casa que tem amigos tem marca de copo na mesa, e arranhão no chão. E tem mesmo. Se for casa com criança pequena, então, aí tem parede riscada, brinquedo em cada canto, sofá manchado...E que seja de lápis de cera, ao invés de cigarro, penso eu.
Não é só a casa da gente que tem que ter vida, ser pulsante, carregar marcas. Todos nós temos as nossas cicatrizes, que andam rigorosamente escondidas, mas, depois do salvo conduto de Carlinhos, podem e devem ser alforriadas, são elas que nos dão charme e nos fazem ser quem somos. Precisamos, nós também, carregar nossa história na pele.
Eu já achava estranho, e agora me veio a certeza, mulheres que mais parecem que saíram de capas de revistas ou das passarelas não são reais, são mulheres vitrines, sem uma única sardinha de sol no nariz para contar história de algum verão inesquecível, ou uma ruguinha, que traz um charme experiente aos olhos ainda brilhantes de menina. Uma gordurinha aqui e acolá, que não comprometem o visual não deixam dúvida: essa aí gosta de reunir quem ama ao redor de uma boa mesa. Se os dentes já não são mais brancos como antigamente, não dá para enganar: essa outra adora um vinho e de preferência na companhia dos amigos. Se reclama muito da coluna, é batata: tem filho pequeno, que ela ainda carrega no colo...
Mulher de verdade é assim, veste seus defeitos como se fossem predicados. Drummond certamente concordaria comigo...

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