Outro dia fui
ao cinema, mas nem lembro mais do filme. Fui tomada de assalto por uma cena que
aconteceu na platéia.
Um casal já
sentado, por descuido, mau jeito, ou seja lá por qual motivo for, ao se ajeitar
na poltrona atingiu, com um chute, a poltrona da frente, em que estava sentada
uma mulher acompanhada do marido. Isso já aconteceu comigo algumas vezes, e,
normalmente, em dias felizes, finjo nem me incomodar, e em outros, mais
raivosos, faço um comentário entredentes reclamando da má educação do meu
vizinho.
É fato, e
consumado, que todos estamos sujeitos a isso num mundo em que convivem bilhões
de pessoas, e no qual várias delas dividem o mesmo espaço ao mesmo tempo. O meu
desafio particular atual, inclusive, é saber levar estes incidentes na esportiva.
Pois bem.
Neste caso, como costumeiramente tenho visto acontecer, o casal da frente- as vítimas
do chute- não levaram no fair play. O marido se virou para o descuidado
“agressor” e lá se foram impropérios de A a Z, e o que é pior, em alto e bom
som para o cinema inteiro ouvir. Algo como “vamos resolver isso lá fora” foi
dito por algum deles. Tomei um susto. Eu e todos que lá estavam, e começamos a
assistir a deplorável cena: um bate boca sem fim, que levou o casal que
provocou o mal estar a levantar-se da cadeira e ir se embora ainda no meio da
balburdia. E o cidadão ainda saiu vociferando que o outro, pela sua
intolerância, teria estragado o programa dele. Climão total. Mas a cena não
terminou aí não. Mal tinha começado o trailer, e o senhor voltou, sozinho,
subindo as escadas até a fileira do outro. Silêncio. Princípio de pânico para
quem se lembrou, como eu, dos últimos episódios trágicos que tiveram o cinema
como palco. Uma pessoa manda um “deixa para lá, cara, vá embora”. E ele,
magistralmente se vira para todos e diz: “não vim aqui brigar, fiquem
tranqüilos. Vim fazer o que deveria ter feito logo no inicio: pedir desculpas.
Já perdi minha noite mesmo, mas acho importante dizer isso em público. Teria
evitado todo este constrangimento. E peço desculpas a todos vocês pela confusão
involuntária.” Virou-se e foi embora aplaudido. Corrijo-me: ovacionado que
nem cantor famoso depois do bis. E ainda me sai com essa: “ E depois ainda
dizem que tricolor é mal educado! Eu sou tricolor, gente! ”
Pronto. Com
seu pequeno gesto ganhou até a simpatia dos adversários, em especial da
flamenguista que vos fala! Clap, clap, clap!
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