Lá fora faz
sol, mas hoje é dia cinzento dentro de mim. Um dia de alma cansada, que
reclama um ar puro, longe destes espigões envidraçados e dessa colméia de gente
que passa entre eles. Mas estou presa, não posso ir. E a cada segundo me sinto
mais asfixiada pela poluição da rotina, da responsabilidade, do dever a
cumprir. E quero fugir. Mas não posso, não devo, não vou.
Sem remédio,
sou consumida por este mal, mas ainda me resta a resignação e os atalhos,
estreitos e inabitados, que tento resgatar dentro de mim. Voz feminina cantando
Vinicius, cheiro de lavanda, sabor de chocolate com canela. Chego mais perto,
quase lá. Agarro-me a eles e me afasto do mundo. Aqui, em algum lugar por
dentro, onde ainda há um pouco de paz, de silêncio, de alma, de mim.
Hoje é esse
meu endereço no mundo, o meu refúgio e o meu consolo, e o que me mantém de pé
mesmo asfixiando, sufocando, precisando, desesperadamente, de ar.
Sobrevivo ao
dia de hoje e sigo tentando encontrar este lugar todos os dias. Em meio ao
caos, ao medo, ao que se espera de mim. Penso em desistir, mas algo ainda mais
forte me traz de volta a estrada. É preciso seguir, sussurra uma voz em meu ouvido. Obedeço, volto
para o caminho, mas, qual é a direção a seguir? Diga-me, para onde que eu vou?
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