segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Mudança para quem?

Sempre fui uma pessoa questionadora, mas confesso que ando carregando dúvidas demais, e de dúvida em dúvida, a crise se instalou. Pessoas inquietas como eu normalmente são curiosas e não passam um único dia sem buscar mais informação, e, em tempos de informação instantânea, estamos ferrados. Explico.
Recentemente estamos sendo soterrados por uma avalanche de informação pasteurizada que seria uma versão 5.0 daqueles livros de auto-ajuda de outrora: são sites, blogs, livros, programas de televisão monotemáticos: descubra uma versão melhor de você mesma, arrisque, vá ao encontro dos seus sonhos. No início se confundia com mais uma jogada de marketing para vender revistas femininas, mas tem agregado tantos seguidores que não tarda a criar sua própria igreja, não duvidem. 
Nunca mais passaremos incólumes por uma melancolia passageira, uma crise no trabalho ou um problema no relacionamento, somos desafiados a todo o momento a enxergar nestas dificuldades, ainda que momentâneas, um sinal para mudar de vida. Propostas não faltam: largar tudo e dar uma volta ao mundo, ir atrás de um sonho que nutríamos aos doze anos de idade, morar em um país estrangeiro para um período sabático e por aí vai.  Pergunto aos navegantes recém egressos: E mudou tudo mesmo?
Reconheço que não podemos viver conformados, e que é motivador ouvir alguém falar da sua coragem em mudar de vida, mas será que precisamos, todos, de tanto radicalismo para nos reinventarmos?  Tenho a sensação que no mundo de hoje só pode ser feliz quem vive ousadamente, na contramão das convenções sociais, e que aquele que “sobrevive” a base de rotina, relacionamentos duradouros e férias uma vez por ano seria a encarnação do homem acomodado, o típico Homer Simpson cuja diversão máxima se limita a assistir futebol e tomar cerveja com os amigos. Mas, olha, há quem seja muito feliz assim, e que, não, obrigado, não precise mudar de vida.
Para aqueles que, como eu, tem seus dias de dúvida, há consolo. A felicidade, no meu modo de ver, não tem relação direta com as escolhas que você faz, mas com a maneira que você lida com elas. Pensar que para tudo na vida temos escolha é de um reducionismo asfixiante. Nem todo mundo pode viver como quer, é óbvio, seja por este ou aquele motivo, e, ainda que haja solução para quase tudo na vida, muitas vezes é mais enriquecedor permanecer onde estamos do que mudarmos de lugar. Mudar a si mesmo, conseguir enxergar sua realidade de modo diferente é infinitamente mais desafiador e complexo do que simplesmente mandar tudo as favas e ir morar numa casinha de sapê no alto da montanha.
E tem mais. Há infinitas possibilidades de insatisfação pessoal, e praticamente todas elas se refletem no seu ambiente de trabalho ou nos seus relacionamentos, o que não significa que efetivamente você esteja infeliz no trabalho ou no seu casamento. Existem lacunas existenciais que são preenchidas somente se descobrirmos algo que nos faça feliz como pessoa, e isso é uma tarefa para quase uma vida inteira. Da maneira como a história é contada até a infelicidade, que é própria da natureza, e que é um sentimento inato no ser humano (até bebês recém nascidos ficam tristes) transforma-se num inimigo que deve ser sempre debelado. Luta inglória essa em que não há vencedor.
É bem verdade que sou daquelas que não acredita em mudanças radicais em curto espaço de tempo, e alguns anos de terapia me mostraram que às vezes andar rápido demais nos faz esquecer para onde estamos indo, mas, ainda assim, louvo qualquer forma de atitude, e aplaudo aqueles que têm coragem suficiente para sair da casca e buscar outros caminhos, pelo motivo que for, mas precisamos ir devagar, o tema é sensível demais para ser industrializado e vendido em pacotes iguais nas prateleiras da internet.

 

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