terça-feira, 11 de setembro de 2012

TOP Zero

Ando intrigada com a quantidade de gente preocupada em agrupar em listas, ou, na assustadora versão neologista, ranquear, tudo que vê pela frente como se o mundo fosse uma versão Top 10 de bolso. Os melhores restaurantes, os melhores vinhos, os melhores destinos para se viajar com crianças, com amigos, com o marido, sozinha, 100 livros para ler, 100 discos para ouvir, 1000 lugares para se conhecer antes de morrer. Ufa! Foi dada a largada, vamos correr atrás do prejuízo, não podemos deixar esta vida terrena sem experimentar todas as dicas desses guias de autoajuda. E não é só você que pensa assim, amigo, e aí, bem, aí é que mora o problema.
Confesso que a lista dos 1000 destinos é, para uma viciada em viagens como eu, deveras tentador, mas de repente transformou-se, de um convite à diversão a um convite à depressão. Primeiro porque, salvo melhor juízo, como diriam meus colegas de profissão, é humanamente impossível alguém conseguir dinheiro e férias disponíveis para conhecer tantos lugares, muitos deles no mesmo país. Talvez a única que tenha conseguido a façanha tenha sido justamente a jornalista que o escreveu. Garota sortuda, ela.
Segundo porque essas listas horripilantes provocam um efeito ainda mais assustador que a palavra ranquear: o visitante de massa. Sabem quem ele é? É aquele que anda em grupos, viaja em excursão, adora tirar fotos e falar alto, e gosta bem pouco de viajar. E não vou ser católica uma hora dessas, para o espaço com o amor ao próximo: não, eu não simpatizo nem um pouco com este incômodo vizinho.
Olhe a sua frente, ao seu lado, tem sempre alguém como ele na sua dianteira, correndo afobado por mais um título. De todos eles, o contador de histórias é o meu maior inimigo. Ele sempre se valoriza demais, e recheia suas histórias com pitadas de mau gosto, preconceito, e mentirinhas. Fala sério, ele se acha o cara, o engraçado, o que passou pelas maiores aventuras, o que conheceu os 1000 lugares do livro da jornalista americana e a própria jornalista americana, que, aliás, cruzou com ele e bebeu um drink em um encontro acidental em Acapulco. E saiu caidinha por ele, naturalmente. Peraí, deixa eu vomitar um pouquinho, já volto.
Aff! Já passei da idade de me preocupar em valorizar essas disputas ou o barulho que se faz em torno delas. Silêncio para mim é categoria cinco estrelas na minha lista vip e pouca gente também. Prefiro lugares e pessoas especiais e selecionadas, pessoas com “denominação de origem controlada”, de safras antigas, e bem cultivadas, que sabem valorizar o que é realmente importante. Pessoas orgânicas, sabe, sem esses agrotóxicos “de massa”.
O que dispenso e realmente não preciso é deste agigantado adjetivo que acompanha tudo que se faz ultimamente: turismo de massa, justiça de massa, comércio de massa, como se fossemos uma manada de bois que anda sempre em bando e faz tudo igual. Alguns são, realmente, como o turista sabichão. Mas comigo não, violão.

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