Ando intrigada com a quantidade de gente preocupada em agrupar em listas,
ou, na assustadora versão neologista, ranquear,
tudo que vê pela frente como se o mundo fosse uma versão Top 10 de bolso. Os
melhores restaurantes, os melhores vinhos, os melhores destinos para se viajar
com crianças, com amigos, com o marido, sozinha, 100 livros para ler, 100 discos
para ouvir, 1000 lugares para se conhecer antes de morrer. Ufa! Foi dada a
largada, vamos correr atrás do prejuízo, não podemos deixar esta vida terrena
sem experimentar todas as dicas desses guias de autoajuda. E não é só você que
pensa assim, amigo, e aí, bem, aí é que mora o problema.
Confesso que a lista dos 1000 destinos é, para uma viciada em viagens como
eu, deveras tentador, mas de repente transformou-se, de um convite à diversão a
um convite à depressão. Primeiro porque, salvo melhor juízo, como diriam meus
colegas de profissão, é humanamente impossível alguém conseguir dinheiro e férias
disponíveis para conhecer tantos lugares, muitos deles no mesmo país. Talvez a única
que tenha conseguido a façanha tenha sido justamente a jornalista que o escreveu.
Garota sortuda, ela.
Segundo porque essas listas horripilantes provocam um efeito ainda mais
assustador que a palavra ranquear: o
visitante de massa. Sabem quem ele é? É aquele que anda em grupos, viaja em excursão,
adora tirar fotos e falar alto, e gosta bem pouco de viajar. E não vou ser católica
uma hora dessas, para o espaço com o amor ao próximo: não, eu não simpatizo nem
um pouco com este incômodo vizinho.
Olhe a sua frente, ao seu lado, tem sempre alguém como ele na sua
dianteira, correndo afobado por mais um título. De todos eles, o contador de
histórias é o meu maior inimigo. Ele sempre se valoriza demais, e recheia suas
histórias com pitadas de mau gosto, preconceito, e mentirinhas. Fala sério, ele
se acha o cara, o engraçado, o que passou pelas maiores aventuras, o que conheceu
os 1000 lugares do livro da jornalista americana e a própria jornalista
americana, que, aliás, cruzou com ele e bebeu um drink em um encontro acidental
em Acapulco. E saiu caidinha por ele, naturalmente. Peraí, deixa eu vomitar um
pouquinho, já volto.
Aff! Já passei da idade de me preocupar em valorizar essas disputas ou o
barulho que se faz em torno delas. Silêncio para mim é categoria cinco estrelas
na minha lista vip e pouca gente também. Prefiro lugares e pessoas especiais e
selecionadas, pessoas com “denominação de origem controlada”, de safras
antigas, e bem cultivadas, que sabem valorizar o que é realmente importante. Pessoas
orgânicas, sabe, sem esses agrotóxicos “de massa”.
O que dispenso e realmente não preciso é deste agigantado adjetivo que
acompanha tudo que se faz ultimamente: turismo de massa, justiça de massa, comércio
de massa, como se fossemos uma manada de bois que anda sempre em bando e faz
tudo igual. Alguns são, realmente, como o turista sabichão. Mas comigo não,
violão.
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